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domingo, 13 de fevereiro de 2011

Adultério

A palavra adultério é um casal.
Ad alter.
Para o outro.
Ser adúltero é voltar-se para algo.
Ou alguém que nos desvia do Uno.
O adultério mais perigoso é o do coração.
O coração quando adultera,
Escolhe o que não é escolhível.
Ele foge do cônjuge.
Seja ele qual for:
Pessoas, ideais, projetos.
Adúltero é todo aquele que escolheu errado.
E em "outro" esconde-se de si.
A vida é um grito de adultério.
Na medida em que o mundo se apresenta.
Múltiplo. Inequívoco. Perigoso.
Somos nós que adulteramos o universo.
Somos a "outra" da criação.
O lugar do escondimento do absurdo.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Coisa

Um pouco de lógica.
O ser humano se diferencia por não ser coisa.
Uma coisa é algo que o ser humano usa.
E abusa.
Coisas são fragmentos espúrios do universo,
Que, por não serem humanos,
Podem ser compradas em shoppings,
Trocadas em lojas de móveis usados,
Observadas em vitrines,
Pegadas, sujas e até amassadas.
As coisas se diferenciam dos humanos porque são manuseáveis.
Uma coisa manuseável é algo sujeito às mãos.
Mãos humanas tocam coisas.
E usam, e brincam, e gozam, e jogam fora.
Sim, as coisas podem ser jogadas fora.
E podem ser gozadas.
No fundo, as coisas são ridículas.
O essencial na coisa é sua descartabilidade.
Tubos de pasta de dente, garrafas pet,
Roupas novas ou velhas,
Carros nacionais ou importados,
Aparelhos de barbear, chinelos havaianas.
Todas essas coisas usamos, gozamos, brincamos,
Soltamos as correias de borracha,
E jogamos fora.
São as mãos que definem um coisa da outra.
Pelas mãos sabemos se algo é uma coisa ou um ser humano.
As coisas não têm mãos que tocam.

O pior dos mundos possíveis,
É aquele que confunde homens e coisas.
Que descarta um homem usado,
Que abusa de vida como de automóveis.
Homens não soltam correias como chinelos.
As pessoas têm mãos.
E se tocam.