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domingo, 20 de março de 2011

São Manuel Bueno - Mártir

Hoje li o romance "São Manuel Bueno, mártir" de Miguel de Unamuno.
Sentei-me ao seu lado ao sopé da montanha,
"Corri às orelhas do lago".
Ter fé é sentir o povo, a natureza, a vida.
Sentir o "seu" povo, a "sua" história.
Contemplar os lagos e as montanhas como sagrados...
E identificar em cada pequena história humana,
Um traço transcendente.
Não há demônios, não há anjos coloridos,
Não há deuses inusitados controlando pensamentos
E julgando, condenando, queimando.
Há sonhos e pessoas que se mesclam em desejos.
Ser uma pessoa de fé é crer na incapacidade humana,
Crer na miséria da razão soberba, entregue a si.
E saber vislumbrar em cada pedaço de chão,
Em cada cheiro de gente,
Um traço do Eterno se construindo.
E santificando a vida em sua minúscula importância.
"no hay más confesión que la conducta".

terça-feira, 15 de março de 2011

Corpo e Revelação

O corpo é um Evangelho.
A biologia é teologia.
No corpo, verdades absconditas.
Tirar o véu do corpo é pregação.
É anúncio de uma boa notícia.
Uma sociedade que faz da moral
Um refúgio para o Ser,
É uma sociedade que se esqueceu
Que os deuses habitam corpos.
Que o Ser tem cheiro, cor,
Suor e Lágrimas.
O Espírito é o Corpo.
Re-velar = Desnudar

domingo, 13 de março de 2011

O Balcão

Recentemente li "O Balcão" de Jean Genet.
Doeu.
A peça se passa numa "Casa de Ilusões".
Um balcão de um prostíbulo,
Onde homens usam (ou tiram) as máscaras que os representam.
Na casa das Ilusões cabem todos:
Generais, Chefes de Polícia, Bispos...
Genet desvelou o centro da vida:
Representar! Representar! Representar!
O que é o Ser senão pura Representação.
O prazer fútil é o lugar onde as máscaras são tiradas.
Onde os "eus" subsumidos pelos papéis sociais
Cedem aos solavancos grotescos da existência.
Estamos todos debruçados num grande Balcão.
Tateamos pequenos momentos de ilusão
Para respirarmos sem a máscara da história.
Ai dos que pensam ser possível viver sem máscaras.
Ai dos que se cansam de representar.
Fingir, fingir, fingir...
E atingir o Ser!

quinta-feira, 10 de março de 2011

É o rabo que balança o pato!

Somos movidos por aquilo que fazemos.
O balanço da vida nos move.
O Ser é o movimento do rabo!
Conforme o rabo vai pra lá e pra cá...
O pato vira, nada, quaqua...
Às vezes, o rabo conduz o pato a assadeira.
Com batatas e molho de laranja.
Cortar o rabo é impossível ao pato.
Afinal, ele não voaria mais.
Dá pena ver a pena do rabo do pato mexendo.
E saber-me parte de um abanar macio da vida.
Dança inebriante no lago da existência!

quarta-feira, 9 de março de 2011

Cinzas

A lembrança de que somos pó dói.
Saber que caberemos em um punhado de nada,
Esmagado em um punho cerrado,
Faz com que nos lembremos da nossa miudez.
Ter as cinzas na cabeça é uma saudação ao efêmero.
É o grito do tempo que nos aponta a vaidade,
Que, insistente, teima em prevalecer.
Somos a tensão perfeita entre o desejo incessante,
E o fim que nos acoita por todos os lados.
Ter fim é a marca da matéria.
Ter fim é o sinal das cinzas.
Ser "fim" é a ambição que nos move,
Ter "fins" é o sustento da criatura,
Saber ter fim é o início da realização humana.
Lembro-me de que sou pó.
Mas insisto em não ser poeira varrida do Universo.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Carna-v-all

Ontem eu fui ao desfile de carnaval de minha cidade.
Presidente Prudente não tem tradição de festas de Momo.
O que não significa que não tenha carnaval.
Participar, ainda que de longe, dessa festa foi maravilhoso.
Gosto de ver pés descalços em sandálias prateadas.
E costas nuas e queimadas se encherem de plumas e paetês.
Gosto de ver o povo humilde mascarar a tristeza,
Ainda que por míseros 500 metros de avenida,
E sapatear o descaso e a mesquinhez dos grandes,
Sambando a vida em forma de festa.
Nos olhos dos humildes vejo o céu.
E saboreio a eternidade em tamborins.
O meu céu não é o da quarta de cinzas.
É o do sábado, domingo, segunda e terça-gorda,
Onde Deus desfila sua alegria em rosto humano,
E renova o mundo com esperança.
Viva o Carnaval!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Chuva e Vinho

Hoje tive uma vontade enorme de beber vinho.
Gozado.
O vinho nunca me atraiu por desejo.
Mas sim por convenção social.
Por obrigação.
E por um "não-sei-quê" de ofício.
Sorvi um vinho como se fosse o último.
E a cada gota tragada por meu desejo,
Senti o hálito daquilo que somos.
Puro desejo,
Sem nexo, sem controle, sem regra.
O vinho é o alimento de Dionísio.
No aroma do desejo caminho rumo ao Ser.
Extravagâncias úmidas em forma de espera.

terça-feira, 1 de março de 2011

Ingênuo

Esses dias atrás ouvi uma frase que me tocou:
"Tudo é bom quando se é ingênuo".
De fato, tenho saudade da ingenuidade perdida.
Tudo era tão bom!
A suspeita filosófica nos esclarece a alma.
Todavia, obscurece a leveza do olhar.
Um olhar filosófico é pesado pela crítica.
A ingenuidade é privilégio dos corações.
Quando se vive pelo olhar,
Perde-se a beleza tenra das coisas.
Valha-me Deus repossuir a vida pelo coração.
Para que tudo seja Bom.
E serei salvo pelo novo sempre atuante.