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quinta-feira, 30 de junho de 2011

a zebra

Estou no Zoo-lógico.
Aqui há uma outra lógica.
Entre chimpanzés e hipopótamos,
Eu prefiro a zebra.
Ela me olhou no meu cercado.
Ela me deu alimento.
Quando eu era pequeno,
Minha mãe me levou no parque.
Lá tinha o Foto Texano.
Um chapéu de palha.
E um burrico com listras.
Que se transformava em zebra e pronto.
Todo ser vivo quando tem uma função econômica,
Muda de nome.
A zebra zebra mesmo eu só vi hj.
Ela me disse:
Conheço teus cercados,
Como tu, fujo todo dia do leão.
E tenho listras naturais.
O que diferencia uma zebra de um burrico de parque,
São as listras e as fotos.
Ninguém sobe na zebra.
Ela é hipótese listrada da existência,
A liberdade com rabo pendurado.
Que problema há em ser devorado?
Se a beleza das listras próprias compensam o existir.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Marchas

Vivemos uma época de marchas.
Da maconha, das vadias, dos evangélicos,
Dos católicos, GLBT, skatistas, etc etc.
Não tenho nada contra nenhuma delas.
Aliás, acho que todas são justas.
Se alguém põe-se em marcha,
Pronto! Eu já apoio.
Uma vida que caminha é de fato vivida!
Marcha lembra guerra, exército,
E, para mim, só existimos guerreando contra algo.
Paradigma quixotesco do Ser!
Mas, o que me incomoda,
É que essas marchas de hoje são marchas de uma bota só.
Trata-se, ao meu ver, de súplicas ao EU.
Bate-se o pé para exigir a falsa liberdade de si.
O direito de consumir, de ir e vir, de crer ou descrer.
Um mito triste da não aceitação dos limites de se existir.
Pior: o enquadramento de todos os seres em uma classe...
Uma trincheira donde se golpeia sem avistar o alvo.
Vivemos num mundo onde parece que somos reduzidos a uma trincheira:
Católicos, Crentes, de Esquerda, de Direita, Homo ou Hétero...
Uma sociedade que se reduz a rótulos,
É uma sociedade sem horizonte algum...
Pois já se contentou com o título assumido.
Não vejo ninguém marchando contra políticos que enriquecem ilicitamente..
Nem contra deputados que cobram propina...
Muito menos contra modelos econômicos que alimentam a ilusão do consumo,
E deixam milhões à margem das fileiras...
Ninguém sai às ruas quando os impostos pagos não são revertidos aos que marcham...
Mas ficam depositados nos paióis de redondos generais.
Não marchamos por um interesse comum...
Vivemos o tempo da guerra para podermos nos reduzir a uma farda.
Por isso, por mais que batamos os pés em sincronia musical.
Jamais sairemos do lugar que pisamos.
Baionetas tristes apontadas para o vento!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Festa Junina

Adoro.
Meu Deus é caipira, fazer o quê!
Lembro-me com muita saudade...
Das festas juninas de minha adolescência.
Aquelas de sítio.
Tudo conforme o ritual.
Primeiro a obrigação depois a diversão.
Mulherada com vela na mão. Homens fumando longe.
E tudo começava em forma de terço.
Os estandartes lá, impávidos,
Santo Antônio, São Pedro, e São João,
Que pra mim era o do carneirinho.
Depois do amém.
Velas ao pau.
E a vela que grudava no mastro de Santo Antônio,
Era sinal de casório breve.
Depois,
Comida, comida, comida.
Que saudade dos quentões com muita pinga,
Amendoim torrado no tacho, Pipoca melequenta de óleo,
Chocolate quente (só água e toddy, sem leite mesmo)
Rostos com bigodinhos e barbichas.
As mulheres de pintas pretas em faces rosadas.
E um exército de moleques com bombinhas nas mãos.
Traque e bombinha pode!
Agora rojão é coisa de adulto.
E sempre contavam daquele que tinha perdido a mão,
Mas que ninguém tinha visto.
No forró, não havia problema em nada.
Ómi cum ómi e muié cum muié.
Ali toda quadrilha era do bem.
Ah, Minha família toda foi junina.
A liturgia da vida tinha seu auge na dança...
Onde o casório caipira, com direito a padre bêbado,
Selava o chão sagrado da existência...
Onde as fogueiras falam mais do que tristes teorias.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A batina ou a paixão

Prefiro a paixão.
Explico-me.
Ser padre, para mim, não significa um título.
Não se trata de uma honra,
Um poder, uma veste branca,
O meu ministério nunca foi e nunca será branco.
Ser padre é ir além de rótulos,
Modos de falar, teorias doutrinárias celestes,
Eu nunca serei um padre lambido.
Paparicado e confortado em suas lindas vestes.
Minha Ordem é a da Desordem.
Por isso, prefiro a paixão.
A paixão de viver Deus no pequeno da vida.
Não nas grandes encíclicas,
Não nos sermões floridos,
Não no frio de igrejas de pedras mortas,
Não em regras desregradas em si e feitas de nãos.
Não há batina que sirva em mim.
Prefiro viver loucamente uma paixão...
Que me lança no altar como se fosse um leito nupcial...
Onde a cada Eucaristia me cobre de beijos cálidos,
E diz que me ama.
Prefiro pregar poemas, peças teatrais, romances.
Prefiro assumir a desordem humana e nela batizar o universo.
Prefiro a confissão daqueles que a batina cobriu.
Entre a batina e a paixão,
Sempre preferirei a paixão.
Meu ministério sempre, sempre será maior do que uma batina,
Que aliás nunca usei.
Será, acima da tudo, a paixão desmedida por uma pessoa,
Que, além de minhas desordens,
Olha minha sinceridade.
E pela minha história, cravou a dele na Cruz.
Só os apaixonados se salvam.

sábado, 4 de junho de 2011

Subiu

Eles estavam todos lá.
Olhando, espiando, coringando,
E Ele subiu aos céus.
Vruuuuuuuuuuummmmm.
Diante deles um facho de fumaça.
Logo, logo eu volto.
Aprumem o terreno.
Botem água no feijão.
Varram a calçada.
Areiem as panelas.
Fritem torresmos.
E serão minhas testemunhas.
Em todos os cafundós dos Judas que pisarem.
Daquele momento em diante,
O Universo vive em espera.
Quando Ele voltar a mesa tem de estar pronta.
A subida dEle aos céus,
É a nossa descida pro chão da vida.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Sobre Estrelas e Cometas

Todo mundo já deve ter ouvido essa parábola.
Dizem que é melhor ter amigos estrelas do que cometas...
Que as estrelas permanecem e blá-blá-blá...
Idealismo inútil.
Primeiro porque ninguém permanece,
Nem as estrelas, que, em sua maioria,
Estão mortas no seu espaço eterno.
Hoje amanheci decidido a ser Cometa!
Quero passar rápido mesmo, assim, depressa.
Não quero seguir órbita alguma,
Sem nenhum compromisso sideral.
Prefiro ser veloz, mas intenso.
Prefiro passar faiscando o mundo,
Do que ficar lá, apagadinho, enfiado no céu.
Quando eu era pequeno, eu vi o Halley.
Eu tinha 7 anos. E o céu estava escuro.
Meu pai me levou no fundo do quintal e apontou.
Os cometas, ao contrário das estrelas,
Permitem ser apontados.
Não há perigo de verrugas na ponta dos dedos.
Não sei porque, mas coloquei como meta de vida,
Não morrer antes de ver o Halley de novo.
É muito melhor passar a vida se lembrando de um cometa que passou,
E esperá-lo, inebriado por sua cor,
Do que viver plantado contemplando estrelas mortas-vivas.
Um cometa vale mais do que uma constelação inteira!
Vale mais do que uma vida cheia de verrugas.