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quinta-feira, 27 de março de 2014

Desnecessidades e Feiura

O Absoluto instaura a maior solidão possível.
A identidade é escrava no reino da diferença.
Pensar é coisa que nasce no oposto.
Divergir e divertir apontam para a mesma direção.
Já a Beleza não,
Ela é a desnecessidade Absoluta.
E, por isso, o Belo é ab-surdamente solitário.
Gosto de não ter que explicar as coisas.
Mas, sobretudo, gosto das coisas que não se explicam.
E detesto que me expliquem as coisas difíceis e misteriosas.
Explicar o Mistério é um assassinato seguido de suicídio.
Hoje vi uma mulher conversando com um cão.
Ambos estavam encoleirados.
E permaneciam alheios aos olhares de julgamento.
Impossível não é se comunicar com um ser que late,
Impossível é descobrir a Verdade entre os latidos dos que insistem em ser surdos.
E preferem um Universo feito de degraus a serem galgados
E méritos a serem conquistados.
O deus-feito-morte-e-fim fez com que a maior feiura possível
Se transformasse no Amor mais Belo...
Ter Razão é desnecessário quando se ama.
E o amor é Belo porque é o privilégio da feiura.
Amor se experimenta no Limite.




terça-feira, 18 de março de 2014

O Outro Molhado

A diferença é a única salvação possível.
Tudo começou quando o Mesmo se tornou Outro.
E quando o olhado quis ser Molhado.
Bom mesmo é ver uma criança tocando o mar pela primeira vez...
As pisadas cautelosas, minúsculas...
A canela submergindo nas águas infinitas.
Cada ser humano é um oceano a ser adentrado.
Vagarosamente.
Nunca toques no azul de uma pessoa se não tiver disposto a se afogar...
Outro é tudo aquilo que nunca sabemos se dá pé ou não...
Tal como o mar misterioso,
Que guarda seus tesouros submersos,
Cada pessoa adentrada só se revela no mergulho.
Ninguém se molha ficando apenas na margem...
A praia é o refúgio dos covardes.
O Outro só se mostra aos que têm fôlego.
E encharcar-se da Diferença deveria ser a única ética possível.
Todo ser humano é líquido, quer o saiba ou não...
Evaporar é a pena dos reticentes.
Felizes são os peixes,
Que de tão afogados,
Aprenderam a engolir água para existir.
A Vida bebeu o Amor até a última gota.

quarta-feira, 12 de março de 2014

O Beijo e o Respiro

Eu creio nos corpos plásticos
Feitos de flexibilidade e movimento...
E que se derretem.
Eu creio na humanidade desejante,
Na ousadia de quem abusa do tempo
E insiste.
Os amores emudecidos não mudam.
Os beijos guardados, 
Os beijos preguiçosos,
Os beijos tímidos, sem força de saírem da boca,
Os beijos curiosos,
São esses que deflagram o coração na ponta dos lábios.
O Amor, quando beijado no rosto, foi traído...
O Amor, quando beijado nos pés, foi lavado...
O Amor, quando erguido, salvou beijando.
O Amor, quando beijou-soprou, fez de todo ser apaixonado um vivente.
E decretou:
Cheirar o ouvido alheio também é uma declaração!
O coração antes de pulsar, aspira.
O último expiro do Amor foi o respirar do Universo.

terça-feira, 11 de março de 2014

Formigas e Partidas

Havia uma multidão de formigas no teclado do meu computador.
Elas eram muitas.
E, como numa saída de metrô, 
Foram saindo apressadas do território das teclas.
Sim, as formigas construíram seu ninho no interior das palavras não ditas.
Escrever é assim: trabalhar como formiga.
Juntar o alimento da poesia nos dias de verão...
Pra que no inverno das letras, as palavras aqueçam como um ninho.
Um poema só tem rima quando é fungado...
Escrever é desovar as sobras...
O amor não está nas malas colocadas no ônibus...
No pranto com sabor de passado e repetição...
O amor está  na possibilidade de ser viagem e estrada...
No olhar do outro lado da rua.
Ama verdadeiramente quem sabe ver partir tudo aquilo que parte.