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segunda-feira, 8 de junho de 2015

As esquinas de junho

Eram duas vozes numa multidão cheia de bocas.
E bastou um único olhar,
Para que uma voz sem ser ouvida reconhecesse a outra.
Prazer. Prazer é meu.
E foi assim, iniciando com os prazeres que descobriram seus timbres.
Ele rouco, grave e cigarrento.
Ela rouca também, tossindo o ontem pelas esquinas.
Ambos protestavam contra o quê mesmo?
Pouco importava.
O dólar continuaria subindo.
A tarifa não seria reduzida.
E a greve permaneceria acesa.
Tão acesa quanto a lua gelada de junho.
Mas nos espaços pisados pelos sons,
Eles já não eram dois.
Eram o Todo em forma de beijo e revolta.
Pois, ao final, todo beijo é rebelde e impune.
A violência de dentro espantava a de fora.
E foi assim, que descobriram no ardente desejo de se ver...
Uma revolução que tinha apenas começado.
Eu ainda te procuro nas esquinas daquele junho.


Precariedade

Habito o território da precariedade.
Escrevo como se enche chouriço.
Coloco o sangue fervente nas tripas de ideias frágeis.
E o tempero com a dor que apimenta antes de coagular.
Só sei ser do avesso. 
Porque é meu corpo que escolheu ser fala e ida.
Os cheiros e sabores me excitam aos berros.
Pois descubro em mim uma alma de poros abertos e analfa-aberta.
As feridas do deus, as feridas do deus...