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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Mariab

Sou péssimo em internet.
Ou melhor, sou preguiçoso,
Não sei mexer.
Sei que tenho uma leitora assídua de meu blog.
Mariab.
Só sei isso dela.
Não sei quem é, nem de onde.
Mas o carinho com que ela comenta meus posts,
Me alimenta a escrever mais.
Hoje faço de meu post uma oração por ela,
Sei que ela precisa.
E nela, rezo por todos aqueles que sei que me amam.
Acredito no amor e na ternura das pequenas coisas.
Simples, miúdas, mas que transformam o mundo.

Cotiledones

Fazia tempo queria escrever um post com este título.
Todo mundo já viu cotiledones.
Quando fazemos a experiência com feijão na quinta série,
E o deixamos em um algodão com álcool,
De repente, como que num susto,
Um broto sai.
A vida sai de dentro do feijão.
E cresce num fiozinho tímido.
Conforme o broto cresce,
Fica pendurado o feijão-pai-mãe partido.
Essas partes se chamam Cotiledones!
Ele morreu por dentro.
Começou com uma cócega,
E expeliu uma vida cheia de grãos.
A morte continua pendurada à nova vida.
As partes do passado, ainda que murchem,
Resistem durante um bom tempo.
Às vezes sinto-me como Cotiledones.
Vejo uma vida imensa me partindo ao meio.
Crescendo, crescendo, engolindo o céu.
Sinto-me murchando em partes,
Cada vez mais distantes uma da outra.
Entreanto, assim como a alegria do Cotiledones,
Está em ver o feijao crescer em folhas e flores,
E parir um universo em forma de vagem.
Minha alegria está em saber que de dentro de minha alma partida,
Posso ver um alimento fresquinho emergir forte.
Grão caído na terra.
Mistura madura da existência.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Capinar

Sigo a leitura do Grande Sertão Veredas.
A cada página me surpreendo mais.
Frase da semana:
"A colheita é comum, mas o capinar é sozinho".
Interessante essa significação cósmica da vida.
Uma simples enxadada na existência transforma o universo.
Bobagem é esperar que os ceifadores se recordem disso.
Meu capinar já é minha colheita.
Uma única semente lançada,
Uma única erva-daninha arrancada,
Um único regar.
Em cada fração de segundos,
Colho um mundo.
A alegria da semente está em não esperar a flor.
Mas rasgar-se por dentro em vida,
Permanecendo calada sob a terra úmida.
Tempos de espera capinante!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Bichos de Pelúcia

Ela balançava os bichos.
Um elefante e um leão.
Não importa que eram de pelúcia.
Ambos tinham vida para ela.
Foi assim, que durante aquela celebração,
as mãos suaves da criança me enfeitiçaram.
Ela dava carinhos aos seus amigos imaginários.
- Por que os trouxe à missa hoje lindinha?
- Porque eles vieram ver o Papai do Céu!
- E por que você veio?
- Porque vim trazê-los, ué!
A menina, na sua infância madura,
Sabia que seus bichinhos precisavam de algo mais do que carinho.
Eles tinham alma.
Eles precisavam do Papai do Céu.
Não me perguntem porque,
Mas fiquei com vontade de batizar os bichinhos.
Imaginei que assim, mesmo que por um único instante,
Deus permitiria aos bonecos falarem...
Apenas para agradecer a ternura da criança...
E a chamarem de madrinha!
Fico triste com um geração muda.
Que não fala mais pela boca de bichos de pelúcia.
E que não tem mais Papai do Céu pra ver.
Mas acredito que o Deus dos homens de pelúcia,
Não nos deixará calados,
E no carinho de pequenas crianças,
Nos afagará pelo desejo das coisas simples.
Oxalá tenhamos colos suficientes!

sábado, 14 de maio de 2011

Grande Sertão: Veredas I

Estou lendo o Grande Sertão: Veredas.
Achei que não iria pro céu se não o lesse.
É um pecado um brasileiro não ter lido.
Apresentarei aqui, aos poucos, alguns trechos que me tocarem.
Aqui vai o primeiro:
"Mire e veja: o mais importante e bonito do mundo,
é isto: que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas -
mas que elas vão sempre mudando.
Afinam ou desafinam.
Verdade Maior".
"O diabo é às brutas; mas Deus é traiçoeiro!
Ah, uma beleza de traiçoeiro - dá gosto!
A força dele, quando quer-moço!
Me dá medo de pavor!
Deus vem vindo: ninguém não o vê.
Ele faz é na lei do mansinho - assim é o milagre.
E Deus ataca bonito,
Se divertindo, se Economiza".

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A reforma do apartamento ao lado

Estão martelando o apartamento ao lado.
O mundo está caindo.
Há poeira por todo lado.
Eu não consigo pensar assim.
Por que as pessoas insistem em fazer reformas?
Por que decidem, assim, de uma hora pra outra,
Trocar azulejos.
Sinto que o universo está trocando o piso.
Há uma ânsia maluca por um chão aos pés.
Os encanamentos estão todos à mostra.
As veias da humanidade se expuseram.
E todos os seus vazamentos foram deflagrados.
Tenho medo que um dia reformem meu apartamento alugado.
Há rachaduras por toda parte!
Há avenidas de buracos na parede.
Por elas passam poesia,
Escorrendo gratuitas pelo inacabado da vida.
Às vezes, de um prego surge um precipício.
Deus se esconde no buraco da minha parede!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Gato Gordo

Meu tio tem um gato.
Meu tio tem um gato persa.
Meu tio tem um gato persa gordo.
Meu tio tem um gato persa gordo que fica na janela.
Meu tio tem um gato persa gordo que fica na janela porque não há ratos na casa.
O gato só é gordo porque não há ratos.
A função de um gato gordo, numa casa onde não há ratos, é gatear.
Tenho medo de uma sociedade de gatos de janela.
E gatos gordos.
Tenho medo de uma geração que não vê mais ratos.
E porque não os vê, não corre atrás.
E nem desce da janela.
Essa geração recebeu tudo pronto: democracia, liberdade de expressão, revolução sexual, informação, tecnologias, etc.
Ração instantânea sem miado algum.
E por isso ficou gorda.
Vendo a vida pela janela.
Tenho medo de que em algum dia, não muito distante.
Ao invés de gatos,
Apareçam cachorros.
E os gatos gordos tenham que reagir.
E talvez já não saibam saltar...
Talvez já não tenham mais garras.
E os ratos farão a festa!