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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O Vidro atravessado

Era o que se podia chamar: "Entre".
Verbo e condição ao mesmo tempo.
Assim um vidro decretou a maior distância do mundo.
O tocável se tornou apenas visível
Enquanto o cheirável continuava impregnado na saudade.
Entrar é verbo que se conjuga sempre no imperativo.
Já "entre" é a marca do tempo que, teimoso, insiste em existir.
O vidro já foi feito de passado e areia,
De caronas,
De promessas e andanças-desérticas,
Agora era só frio, e mais nada.
Acabo de descobrir o significado de vidrado!
Condição daquele que não tira os olhos do vidro.
Transparente é o coração de quem escolhe paredes feitas de vitrais ao invés de pedras...
Amar é construir um telhado de vidro a ser bombardeado...
E ferir-se nos estilhaços dos julgamentos alheios.
Dizem por aí que as almas atravessam paredes...
Eu, que tenho alma feita de carne,
Só consigo mesmo crer que Vida
É tudo aquilo que, de tão permeável,
Permite ser atravessada pelo Outro.
Amar é juntar os cacos.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Ida

A solidão não é solitária.
Ela é habitada por uma multidão de propostas.
Das quais as respostas insistem em ser múltiplas.
Há apenas um Sol-sozinho nesse universo feito de planetas apagados.
Que de tanto girar ficaram tontos e vivos.
A maior distância do mundo não se instaura da dúvida.
Mas nas certezas.
A dúvida faz tudo nascer.
A certeza é submersa, cálida e traiçoeira.
Amor é pacto entre pessoas que de tanto duvidarem, acreditam.
Ontem vi uma pessoa sem nenhuma dúvida.
Ela estava saciada.
E, consequentemente, triste.
O maior motivo é não ter motivo algum.
E ir.
Os porquês não chegam nunca.
E jamais serão necessários
Para os que fazem do percurso a meta
E dos sentidos o sentido!
Partida rima com ida, lida, subida, atrevida, e vida.
Ser é coisa que se aprende no caminho.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Um

Somos muitos!
Foi essa a resposta do demônio Legião ao deus.
Diabólica é pretensão de ser vários sem antes ser Um.
O deus-sendo-três-em-um quis ser Único antes de ser Tudo.
Por isso, o Amor só existe Único.
É verbo que se conjuga na permanência.
Para "to be" é preciso Ser e Estar.
O coração indiviso só sabe ser in-divisa.
Ele vive na fronteira dos que esperam dele e da Esperança,
Que são absurdamente incompatíveis.
O dia-bo é a cerca erguida na alma humana.
É a necessidade do pulo,
Combinada ao esquecimento da semente.
Ser sentido presente na distância,
Ser lugar sem poder oferecer um teto,
Ser um sabor no alimento congelado,
Ser saudade traduzida em agoras feitos sempres.
O desejo de ser Um é maior santidade possível.
Aos invés de ser vários, ser outros.
Amor é a janela aberta de futuro,
Refrescando uma alma sufocada de passado.
O coração, antes de expirar,
Respira.