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terça-feira, 25 de junho de 2013

Sonhos

Sonho é tudo aquilo que se deseja na cama.
O Sonho sempre é bom, ainda que ruim, porque acaba.
Há sonhos que se sonham em pé, como eu, sonâmbulo.
E sonhos que se sonham trêmulos, como um funâmbulo.
Eu já sonhei que voava,
Que cantava no Rock in Rio,
Que mergulhava na Polinésia francesa
E que pescava no Solimões.
Eu já sonhei (pasmem!) que namorava a Dilma!!!
Socorro!
Mas quando o sonho se torna curva,
É porque o Deus quis fazer firula em cima da bicicleta,
Quis me sorrir.
E me fez pedalar mais.
O sonho não precisa de equilíbrio.
Precisa de corpos na horizontal.
Onde o fluxo sanguíneo percorre sem as barreiras da moral,
As pontes dispostas entre o coração e o intelecto.
Tenho medo daquilo que sonho de barriga cheia.
Porque geralmente termina em lágrimas.
A diferença entre o sonho e o pesadelo não é a qualidade,
Mas a dúvida.
Quem duvida de um sonho,
Não merece permanecer acordado.
O sonho não admite sono.
O amor desperta nas vigílias.
E, por isso, começa tarde.


quarta-feira, 19 de junho de 2013

(Há?) A poucos metros

Há poucos metros que separam uma indignação de uma ação.
Há porém passos,
E esses, por mais simples que sejam, podem demorar milênios.
Ou dezenas de milênios,
Como por exemplo entre o Neanderthal e o Cro-Magnon.
A indignação é feita de exclamações com pontinhos nos pés.
!!!!!!!
A ação é feita de dois pontos, um em cima do outro.
: : : :
Estou a tantos metros de você que lê esse texto...
E sei que ontem, estávamos tão perto um do outro.
Expectantes-expectorados,
Soltamos gritos nos passos da subida,
Sentindo nossa indignação caminhar de mãos dadas com as interrogações.
O grande problema não está na decisão.
Está na velocidade das pegadas alheias,
Que são sempre mais rápidas que nossos pés.
Sobretudo quando estes se dão no escuro.
Talvez o que nos impede o encontro estonteante da vida
Seja o fato de sermos percurso antes de ser passo.
No meio da multidão, encontrar-se é maior dificuldade.
E esbarrar-se por aí,
O inevitável sustento de quem caminha.
Procuro-Te entre milhares de vozes alheias.
E já não tenho bandeiras em minhas mãos.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A Revolução começou dentro

A revolução começou mineira.
Desconfiada. Quietinha. E cheia de "jamais".
Mas desde o primeiro olhar,
E da primeira música gostada junto,
Ela invadiu o território mais frágil a ser conquistado:
Um tal de coração, que insiste em não reagir.
Psiu! Não falem alto!
Mas ele escolheu apanhar pra ser livre!
A revolução criou estratégias,
Atravessou Estados,
Uniu pessoas que, de tão ímpares,
Descobriram a possibilidade de serem pares.
Daí pra frente, bastou uma faísca
Que foi Deus mesmo que mandou do céu
No meio da noite matuta e cheia de estrelas.
Cabrum! Santa Bárbara protegei-me!
Mas eu vi a tempestade e ela veio fulminante!
E estonteante!
E iniciou no coração-dos-seres-desejantes
Um alagamento de "e se..."s
Foi só aí, quando tudo parecia se afogar em impossível
Que os membros da Revolução decidiram beber tudo aquilo,
E ao invés de evaporarem como nuvens passageiras,
Descobriram naquilo que os inundava não um fim,
Mas o berço de um barco que preferiu não encalhar.
A revolução começou dentro.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Coração Atravessado

Saber que o Deus quis ter coração
É uma das coisas que me faz insistir em crer.
O divino pulsa.
E isso me salva da vida enfartária.
Religião, para mim, é fluxo sanguíneo, vivente,
E permite com que o vermelho da existência alcance todas as partes do corpo.
O Coração do Deus foi atravessado para se tornar exposto.
E nunca o ser humano está tão próximo da Eternidade
Como quando se permite perfurar pela vida
E a sente tocando em seu peito, ainda que com dor.
Respeite qualquer coração atravessado que se aproximar de você.
Talvez seja o Deus, escondidinho, que queira te fazer pulsar novamente.
Todo coração é sagrado quando sangra.
A salvação foi constatada pela lança.
No "Mortus est!" o "Salvus est!".
O que tem aparência de dor insuportável
Talvez seja apenas um instrumento
Para que ao fim da travessia
Você se derrame em sangue e água e possibilidade.
Toda paixão tem um quê de hemorragia.


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Retirando-se

Coroes aquilo que não tens como rei no universo das possibilidades!
Não há maior liberdade ao ser humano
Do que não ter tesouros para proteger.
A propriedade exige castelos.
E exércitos armados até os dentes para sua defesa.
A pior vida possível é a do sentinela
Que faz das noites um lugar de medo diante da invasão inimiga.
Não existe segurança possível diante do tempo.
Ele corrói tudo.
Faz tudo virar pó-piada-e-nada.
Rico verdadeiro é o que escolhe abraços ao invés de cofres.
Um sábio disse uma vez:
"Serás realmente feliz quando tua mudança couber naquilo que podes levar em tuas costas!".
Todo território demarcado é um território em guerra.
Quando o amor se torna uma posse,
As relações deixarão de ser pontes,
E se erguerão em mil cercas de arame farpado.
Fronteira é tudo aquilo que se deixa pra trás.
A libertação quis ser êxodo antes de ser êxito.
O que realmente temos nessa vida
É o que deixamos ir, silentes, como barcos levados ao horizonte sem fim do mar.
A medida do ter
Está na medida do dar.
Ama verdadeiramente quem sabe ver partir tudo aquilo que ama.
Quando te sentires pobre até o ponto de não encontrar nenhum cais à tua espera,
E o teu desejo morrer nas areais das ondas que já partiram,
Lembra-te da sabedoria do oceano,
Mesmo imenso e repleto de tesouros em seu interior,
Prontos a serem abertos aos mais audaciosos exploradores,
Ele prefere calar, azul e submerso,
E construir as mais belas praias
Apenas retirando-se.




segunda-feira, 3 de junho de 2013

Cachoeira e Eternidade

Para mim, nada é mais pedagógico para se explicar a eternidade
Do que uma cachoeira em sua voluptuosidade.
O fluxo contínuo de águas sempre novas e mesmas,
A queda absurda em direção a um oceano longínquo,
O esforço voraz de transpor obstáculos,
A insistência em solapar pedras milenares, e moldá-las ao seu sabor.
Meu pai me disse uma vez:
O rio só chega ao mar porque sabe vencer os obstáculos.
Na cachoeira, o mar todo já está presente em forma de desejo.
Ela não percebe, mas é o oceano que a atrai
Aliás, o oceano é todo cachoeira derramada,
Silencioso, ele retribui em forma de ondas
Um leve reflexo do que lhe foi encontro um dia.
A onda é a cachoeira do mar.
Eternidade é tudo aquilo que antecipa em nós o encontro com aquele que nos atrai.
A eternidade não está no fim.
Está no impacto incessante do fluxo do dia-a-dia.
Quem espera uma eternidade apenas no além,
Corre o risco de se afogar no aquém,
E não mergulhar no Todo que se derrama mesmo nas quedas.
O amor, ou é cachoeira, ou não-nada.
Ele é feito de abismos.
Aos quais só se responde com mergulhos.
Quando o que brotar em teu interior parecer não dar pé,
E te atrair a mil metros de profundidade,
Não temas estender a mão para a travessia.
Garanto: ela não será segura!
As quedas te deixarão marcas.
E o risco de perder a vida será constante.
Mas em cada passo, seja em falso, seja deslizante,
A cachoeira do Eterno se mostrará sempre vitoriosa.
E o amor, um risco feito queda-livre.
A eternidade é um salto.