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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Vingança

Eu também escrevo por vingança.
Sou ressentido em palavras.
Elas me caçoam.
Porque se sabem livres.
Patético é o coração,
Que se pudesse ser gente
Seria mesmo é criança do começo ao fim.
Pra poder chorar quando quisesse,
E fazer birra por bobagens bestas de antes do almoço.
O que a gente faz com a dor?
A gente esconde embaixo do tapete,
Pra ninguém ver nossa incerteza espalhada pela sala.
O meu bem é in-tenso.
Mas a minha raiva é i-mensa.
A diferença é que o primeiro eu espirro,
E a segunda eu engulo.
Também se faz poesia com entulho.
Paixão boa é aquela dá gosto de se vingar em verso.

domingo, 27 de setembro de 2015

Sente necessidade de se despedir?

Sente a necessidade de se despedir?
A hospedaria não fecha a conta,
Nem oferece nota fiscal ao consumidor.
Pois a diária escolheu não vencer ao meio-dia.
Pra descobrir as tardes do poeta,
Onde a insônia e a insanidade se beijam.
Ela trouxe o suco e virou bebida ao mesmo tempo.
E mediu minha febre com os lábios.
Os calafrios calam o frio dos hiatos.
E a hospedaria, onde habitam saudade e mistério,
Preferiu não ser morada e na-morada ao mesmo tempo.
Precipitado e precipício têm a mesma raiz.
E o mesmo buraco diante dos olhos.
Eu havia me esquecido de que os leves flutuam,
Não mergulham.
Preferem as asas às nadadeiras.
Gosto dos teus eclipses porque são totais.
Eles são crescentes na minguância
E vice-versa.
São Jorge, que de dragão tá de saco cheio,
Vive mesmo é na lua-de-mel dos amantes.
Na espada perfurante das imbecili-tardes.
Há um muro invisível entre nós.
Grafitado como uma tela de Kandinski,
Ou um filme de Godard.
O limite da loucura é a distância entre dois pontos.
Fuga-me.
Na equação escrita em teu corpo,
As distâncias se equivalem.
Pois entre o zero e o infinito,
Há o universo inteiro dos números mudos.
Calando La noche,
Como prece de uma primeira música.
É isso.





segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Entre o Si e os Há-casos

Procura-se acasos.
Desesperadamente.
A história é dramática porque não permite surpresas.
Ela costura cada detalhe do Real, 
Como um deus silencioso, 
Que penetra pelas frestas.
O corpo, que nunca mente, vive à procura do belo,
Porque é no belo que encontra o sentido pro nada.
Ouvi em minha banca de doutorado que preciso me desprender do Si.
Esse sim, é maiúsculo,
Porque consegue ser maior que o deus.
O Si é mudo. Sorrateiro.
Aperta a campainha e sai correndo.
Ele é o mais perfeito argumento da morte.
Porque é mais convincente que a lógica aristotélica.
Às vezes o Si se abraça comigo no leito.
E toma meu corpo de febre e fim.
Ciumento, ele afasta o imprevisível das possibilidades para longe.
E pede a parte que lhe cabe da herança,
Sem pedir licença ou consultar minha temperatura.
O Si dói porque existe.
Inabitável é o território do A-mor.
Que não permite hábito.
Permite espanto-e-pranto.
O acaso é único remédio para o Si.
Há-casos que salvam por "si" mesmos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Hiatos

Éramos o que se podia chamar de intervalo.
Reféns de um passado com gosto de café fraco,
E embriagados da fumaça-feito-fuga-e-fole.
Vítimas do efêmero.
E devotos de uma liberdade
Irresistível de tão impossível.
A música do vento.
Os faróis de meia-luz.
E a eternidade imbecil de dois dias suficientes.
A florada do ipê branco é bela porque é breve.
Ela despenca como grito por piedade,
E se suicida na constatação cruel do tempo que passa.
A matéria aprendeu com as ideias a ser fluída.
Pois foi assim que alma virou corpo e pó.
Não toques o coração de quem ama,
Se não tiveres pronto para a guerra.
Porque amor e guerra são a mesma batalha
Travada com armas diferentes.
Meu maior medo continua sendo o tédio.
Sobrevivo na insanidade de teus hiatos.
O sobrenome do mistério é a intensidade.