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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Entarde-Ser

Peço-te a gentileza de não entarde-Ser-es sem mim.
Pois os poentes solitários são dias de uma sentença muda.
Permita-me a companhia no vermelho-fogo da vida besta.
Quando apenas sobrevoam os insetos e as ilusões idas.
É no fim da tarde que o amor chega, mansinho...
Mineiro, pelas beiradas do dia-cansado.
Insisto em virar-me ao oeste,
Pois um por-do-sol é uma forma de arrastão...
Levando os fatos para o mundo onírico das possibilidades roubadas.
Gosto de ver o Sol sangrando como em Carmen de Bizet,
Primeiro ele se ajoelha,
Suplica perdão à noite,
Pra depois morrer atrás das nuvens-fúnebres.
Impiedosas, como sabem ser.
Não te esqueças que o crepúsculo é uma procissão do aquém,
Rumando pra um além cruel, maiúsculo.
Peço-te a gentileza de não te esqueceres das tardes-findas,
É no entarde-Ser da vida que a gente aprende a de-Ser dos sonhos...
E aprende a te-Ser o eterno,
Por meio dos lábios mais improváveis possíveis.
Todo beijo é uma forma de réquiem.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Sobre o Amor e o Acaso

O sobrenome do Amor é Acaso.
Que infelizmente rima com Ocaso, Descaso.
E talvez até Atraso.
Mas, afinal, porque pressa?
Senta um pouquinho enquanto lhe preparo um café.
Afinal, o deus gosta mesmo é da prece lenta.
Da prece com cara de gente.
Feita cachecol-de-lã-da-vó...
Pontilhada vagarosamente em tardes...
Desnudadas de tão nadas...
Amor é o que se aprende aos pouquinhos,
Nos crepúsculos,
Nas decepções,
Nos "perdi-meus-tempos".
Ele habita o território das inutilidades...
Das desnecessidades mais necessárias que existem.
Descasar não é o contrário de casar.
É permitir ao outro a incrível possibilidade de ser mais que um caso.
Amor a gente descobre nas bordas...
Nos cantos de página,
Nos momentos de bobice...
Nos fins das aulas.
Amor é prato bem passado.
E sobrevive em quem se arrisca a perder não apenas tempo.
Mas também a própria vida.
Amor é a cilada paciente do Tempo e suas surpresas.