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sexta-feira, 9 de novembro de 2018

VÁRZEA

Pra que defender o indefensável?
A carne não é sujeito.
É verbo o tempo todo.
Um pedaço de carne é tecido.
Daí que corpo é vestido desde o ventre.
Corpo-roupa, corpo-pano, corpo-voal.
Transparente e translúcido.
Que é antônimo de opaco.
Que por sua vez rima com fraco.
Forçando, até com frasco.
Já instituição rima com internação
Inalação, e injeção.
Talvez seja pra furar
E fazer vazar,
O que de tão permeável,
Às vezes alaga.
Corpos úmidos não se esgotam nunca.

Até que alcancem a cidade inteira


Disfarça e segue
Pois o contrário da fé não é a dúvida,
É o ontem.
Eu e você choramos,
Eu sei.
Eu via seu soluço
E a brasa de seu cigarro acesa.
Como uma dinamite,
Prestes a explodir o universo inteiro.
Da minha raiva eu faço tosse,
E finjo engasgos engavetados.
Engula o sapo, a mosca, o brejo inteiro.
No pântano desse dia cozido.
Só sobrevive quem se encharca.
E aprendeu ser cru, quente e caroço.
O que importa é não soltar as mãos
Até que virem braços,
E alcancem a cidade inteira.