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terça-feira, 14 de março de 2017

Café coado

Pois o deus quis ter cheiro de gente

E fez toda lágrima salgada
Pra lembrar que o tempo tempera todas as coisas.
É no coador de pano que preparo os cafés que ainda te esperam.
Como teus dedos gordos, vacilantes
Que de tão quentes, vazam um líquido preto. Absurdo.
Perambulo pelo caos da matéria úmida
Embebecida de quente e sal e só.
Mergulhar no mistério do humano,
Adentrar suas multidões de galáxias feitas sinapses cerebrais.
E ver em cada explosão cósmica-encefálica,
Um relâmpago do Amor que quis ser gente-junto.
Descobrir que o verbo amar não tem objeto,
E que de tão intransitivo, virou trans-in-gente.
O coração transbordou foi na porteira mesmo.
Onde a lua, quietinha, soube fingir de bêbada,
Pra nunca mais revelar o que se tornou impossível de tão longe.
A vida, tal como café coado no pano,
Aprendeu a atravessar o pó na quentura.
E a queimar as línguas atrevidas.
Antes de virar fumaça,
Ainda dá tempo de ser aroma.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Nariz entupido

Ser pó. 
Ser matéria aberta. 
Ser hipótese universal de todas as histórias possíveis. 
Pra descobrir que Amor é Gente e Jeito.
Aliás, abor se aprende quando o nariz entobe.
Como se o verbo amar se tornasse substantivo e parasse com essa mania de exigir objeto direto.
Indireto é o caminho da Alteridade.
Escrevo de teimoso, por pirraça.
Pois fazer poesia é brigar com as ideias.
O corpo, que de ideia não tem nada, só sabe mesmo é ser vingança.
Tenho medo de alma pelada.