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domingo, 22 de outubro de 2017

Minha novena

Faço prece com a pressa.
Nas paredes de meus intestinos doentes
Inflamou-se a multidão dos amores idos.
Meu corpo é pichado por dentro,
Pra eu não desistir de grafitar Seus muros,
Com urros, escuros e sussurros.
Eu não receio convalescer de Palavras,
Que são o sintoma da poesia,
E a vacina contra a anemia do tédio.
Eu escrevo entre cólicas,
Pra desvairar as formas.
E enganar o vazio.
Atrevido é Seu beijo que toca o céu com a língua.
O da boca, não.
O do medo, sim.
Os melhores beijos que recebi, me lamberam o medo.
Lá, onde as estrelas têm pressa de apagar,
E ensinam suas cinco pontas a se ferir.
O vazio do astro é imaculado porque brilha.
Ai de quem tentar tocá-lo com os dedos ao invés dos olhos,
Receberá sua vingança em forma de verruga,
Grossa e irremovível.
Meus vazios são minhas novenas.
A dor não dói. O que dói é a busca.
O contrário da fé não é a dúvida.
É a certeza.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Tele-páthicos

Decidiram pelo fim.
E o fim se fez verbo pra habitar entre os "nós".
Amarrados e sem rumo, pisaram cada um pro seu lado.
Ela cruzou o oceano a nado,
Metade cachorrinho,
Metade borboleta.
Ele perseguia borboletas em florestas de cimento.
Na primavera, as lagartas se alargam de tão largadas.
E foi assim, no encontro de versos guardados,
Que a inspiração de um tocou a saudade do outro.
Pois, o que a poesia une, ninguém separa.
Morre-se de verbos quem escolheu fugir de adjetivos.
Meu amor é perfurado de senões e talvezes,
Afinal, o explícito é ofensa. É estupro.
Nas nossas mudezes nos encontramos verborrágicos.
Não precisamos de tele-fonemas.
Somos tele-páthicos.