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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Mais um pouco da minha fase estética...

PESSOA

A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos.
Enquanto sentimos os males e as injúrias de Hamlet, príncipe da Dinamarca, não sentimos os nossos - vis porque são nossos e vis porque são vis.
O amor, o sono, as drogas e intoxicantes, são formas elementares da arte, ou, antes, de produzir o mesmo efeito que ela.
Mas amor, sono e drogas tem cada um a sua desilusão.
O amor farta ou desilude.
Do sono desperta-se, e quando se dormiu, não se viveu.
As drogas passam-se com a ruína de aquele mesmo físico que serviram de estimular.
Mas na arte não há desilusão porque a ilusão foi admitida desde o princípio.
Da arte não há despertar, porque nela não dormimos, embora sonhássemos.
Na arte não há atributo ou multa que paguemos por ter gozado dela.
O prazer que ela nos oferece, como em certo modo não é nosso, não temos nós que pagá-lo ou que arrepender-nos dele.
Por arte, entende-se tudo que nos delicia sem que seja nosso - o rasto da passagem, o sorriso dado a outrem, o poente, o poema, o universo objectivo.
Possuir é perder.
Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência.

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