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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Nelson Rodrigues sobre o teatro

Morbidez? Sensacionalismo?
Não. E explico: a ficção, para ser purificadora, precisa ser atroz.
O personagem é vil, para que não o sejamos.
Ele realiza a miséria inconfessa de cada um de nós.
A partir do momento em que Ana Karenina, ou Bovary, trai, muitas senhoras da vida real deixarão de fazê-lo. No "Crime e Castigo", Raskolnikov mata uma velha e, no mesmo instante, o ódio social que fermenta em nós estará diminuído, aplacado.
Ele matou por todos.
E, no teatro, que é mais plástico, direto, e de um impacto tão mais puro, esse fenômeno de transferência torna-se mais válido.
Para salvar a platéia, é preciso encher o palco de assassinos, de adúlteros, de insanos e, em suma, de uma rajada de monstros.
São os nossos monstros, dos quais eventualmente nos libertamos,
Para depois recriá-los!

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