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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Madalena

Ela ainda procurava um corpo.
Com as sandálias salto quinze nas mãos,
E o perfume se destilando pelos poros,
Ela voltava pra casa, ungida pelo amor de corpos alheios.
Pelas manhãs de domingo,
A Augusta se tornava uma procissão de vidas santificadas.
Sim, ela amava as manhãs frias de domingo,
Quando o Sol lhe beijava as faces borradas,
Pela maquiagem-tatuagem passada.
O centro da cidade velha e suja era seu palácio.

Mas, naquela manhã, tudo foi diferente.
Ao passar pela Igreja cinzenta, cheia de velhas,
Escutou uma voz que lhe chamara pelo nome.
Sim, ela tinha um nome.
Onde a verdadeira guerra existia.
"Nome, quero teu corpo!"
Dizia a voz que lhe beijava os ouvidos.
Passo-a-passo, ela adentrou pela Igreja-túmulo.
As velhas se comunicavam num falatório triste e oco.
Um sino deu início ao matrimônio.
E corpo-pão comungou do corpo-perfume.
O Deus dos homens e das putas,
Quis habitar nos corpos ungidos pelo desejo.
Ela amou.
Ele foi amado.
E na comunhão perfeita entre o divino e o humano,
Ela sorriu quando o Deus-pão chorou dizendo:
Roubaram-me o corpo e não sei onde o colocaram!
Nesse momento, as velhas acendiam velas para exorcizar o ciúme.
Ela assentou-se com Ele aos pés do altar,
Descansou as sandálias sobre o piso frio.
E ofereceu-se, miúda, para abrigar em seu ventre o universo.
Por um instante, os olhos do Deus-pão arregalaram.
O corpo daquele Nome era um êxodo!
E o divino penetrou-lhe os músculos exaustos,
A boca ferida pela mordida devoradora da noite,
Os seios acariciados pela fome,
O íntimo seco.
E daquele instante em diante,
A salvação habitou o corpo para sempre.
Um outro sino anunciou ao mundo o fim da celebração.
Ide missa est

Ao sair da Igreja e perambular saciada pelas avenidas sonolentas,
Seu corpo fecundado abençoava o mundo.
E gatos, garis, bêbados e flores
Eram os acordes de um anúncio universal.
Quando entrou em seu apartamento-templo,
Seu corpo que havia sido uma hóstia na noite dos famintos,
Agora repousava sereno sobre os lençois amassados.
Sua vida, que antes fora um altar doce,
Onde os peregrinos do desejo se ofertavam.
Se transformara em uma missa.
Suas sandálias, enfim desacansaram...
E os perfumes passados acolhiam aquele corpo.
Que, por um fragmento de segundo,
Havia se tornado infinito.

Um comentário:

Anônimo disse...

Maravilhoso...fico sem palavras:)