Tema delicado.
Aprofundamento.
Hannah Arendt, em "Entre o Passado e o Futuro",
Nos define o que é educação.
É aquilo que possibilita ao homem
Situar-se como um ponto de intersecção entre a tradição e o futuro.
O passado com o conteúdo de gerações provadas,
Confrontado com os desafios novos que se apresentam.
O homem é acossado pelo futuro que o questiona,
E empurrado pelo passado.
Duas forças, equilíbrio nem sempre tranquilo.
Um ser-dizente no meio de duas energias.
Proposta: ter a coragem de ser confrontado.
Exercício fundamental da vida.
Vida in-tensa.
Tensão constante da novidade com o mesmo-antigo.
Não se pode abraçar o novo sem o peso do passado.
Seria suicídio, olhar pras idéias emergentes com ingenuidade.
Porém, pior, muito pior,
É deixar todo o peso do passado guiar o futuro.
É não ter a coragem de se permear pela tensão do novo,
Do radicalmente diferente.
O perigo está na não interpelação.
"Não, eu não concordo com tais idéias, então não leio".
"Tal dança não condiz com meus movimentos, então fico fora da roda".
"Eu não gosto de sua teoria, então, eu o indexo".
"Já que você é diferente, eu te excomungo".
Há uma Auschwitz escondida em cada canto do coração humano.
A verdade é fruto da coragem de viver na tensão
E não da comodidade enganosa das próprias teorias.
O Ser se forma no embate.
Onde o novo e o velho, dançando, insinuam um movimento da alma.
Nos chamam para a música e nos inebriam.
A vida vem da fricção dos corpos.
Diferentes em tudo, mas únicos no desejo de ir além.
Não há esperança em mesas fartas de verdades.
Quando os pratos estão cheios de certezas,
Só resta ao deus os ossos carcomidos por ilusões.
Ser formado é ser confrontado.
É não engolir nenhuma verdade como sopa,
Mas devorar tudo, todo o universo criado.
E digerir de acordo com nosso frágil organismo.
Tempos difíceis os nossos,
Em que é a criança que define o que quer comer.
Em que o aluno define o conteúdo a ser dado.
Em que o formando se auto-coroa formador.
Indexando-nos uns aos outros...
Perdemos a tensão.
E escondemo-nos debaixo de nossas ilusões.
Medo traduzido em condenação.
2 comentários:
Texto interessante professor! A tensão entre a novidade e a tradição é algo que dá o que pensar, entretanto, não vejo o conservadorismo em relação a alguns aspectos do “mesmo-antigo” como algo ruim (conservar o que é bom acredito ser plausível). Pois pensar que a tradição é uma pedra imutável e morta é desconsiderar o aspecto da transmissão que a torna sempre viva e a atualiza sem perder totalmente seu norte; Adorno já apontava o paradoxo inerente ao se olhar para o passado, pois este projeta uma visão do futuro e não a nostalgia do passado. É claro que se situar nesta tensão pode resultar em desdobramentos e vetores ideológicos com a pretensão de transformar (claro que querer e poder são diferentes, já dizia aquele texto do jornal que o senhor nos trouxe, rs), pois se os tempos são difíceis podemos pensar/agir criticamente em relação a eles. Bom este é meu comentário, abração!
O tema é muito interessante, professor, e o sr. o abordou muito bem. A tensão permeia nossa vida e devemos sempre averiguar o que cremos e ter a coragem de confrontá-lo com o novo, que pode ser bom ou ruim. Se é bom, devemos aceitá-lo, mesmo porque o bom e o verdadeiro andam de mãos dadas. Mas não creio que o homem seja uma "metamorfose ambulante". Nós mudamos muito, mas no fundo somos sempre os mesmos, com as mesmas necessidades e os mesmos medos e - principalmente - com a mesma sede de verdade. Penso que a busca por ela não seja vã, que podemos sim encontrar a verdade profunda sobre nós mesmos (e, a partir daí, as verdades sobre a fé, sobre o nosso agir moral, etc)....
Creio que é válido o pacto que Maritain e sua esposa Raissa fizeram, quando jovens estudantes ateus na Sorbonne: se constatassem que não poderiam encontrar a verdade sobre Deus e sobre si mesmo eles se suicidariam. Mas há muitos que, mesmo sem esse pacto, vivem como mortos vivos. Enquanto houver busca existirá vida.
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