Quando abriu os olhos, acordou com a certeza de que tudo tinha sido um sonho.
Ele precisava se denunciar.
Afinal, ele próprio era o assassino.
Ao seu lado, ela jazia, emudecida.
Com sete facadas odiosas,
Ele havia esquartejado a cama onde dormia.
Sim, a cama, pois ela era um confessionário calado.
Onde o passado, feito de falta e dor,
Lhe sussurrava aos ouvidos toda noite.
A cama havia sido comprada em prestações.
Mas a promessa foi feita à vista.
Ali, ambos trocaram juras,
Beijos, gametas e depois tapas.
Solitário, nas noites quentes,
A cama lhe parecia um transatlântico.
Enquanto ele, um náufrago.
Quando os sonhos se partem em dois,
O pesadelo é inevitável.
E a cama, que um dia sustentara o peso de ambos,
Agora, perfurada, era o retrato de seu coração rasgado.
Com a faca graúda e reluzente,
Presente de uma madrinha que ele jamais escolheu,
Cortou a jugular do leito revestido em lençois de desilusão.
Ao sair pela rua na direção da delegacia,
De pijamas e travesseiro na mão,
Imaginava qual seria a acusação que faria contra si.
Afinal, a cama, indefesa, não teve direito algum de reação.
Ela sangrava serena,
E silenciosa, no quarto,
Era o retrato de um fim premeditado.
Triplamente qualificado.
Diante do delegado, que lhe perguntava o motivo,
Ele apenas acenava com um sorriso,
E não abria a boca,
Apenas pensava silente.
É saudade seu doutor, é saudade...
Eu a matei com um tiro de saudade.
3 comentários:
Não me canso de admirar os seus textos, professor.
Simplesmente
genial!
Muito bom!
Me vi
Me li...
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