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sábado, 2 de janeiro de 2016

Entre as pedras e o mar

Éramos um penhasco e seus riscos.
E uma multidão de pedras-platéia-e-leito
Bebendo o leite do mar como se a praia fosse uma enorme mamadeira.
E havia o medo.
Sempre presente na forma de olhares suspeitos
Ou de passados, feito conchas encracadas e falantes
Observando um futuro que já não alcançam.
E foi exatamente aí que as carnes-esponjas resolveram nascer.
Descobriram o prazer em ser porto e perto.
Desceram ferindo os pés que não respiram,
E pisaram o quente do universo com as mãos.
Escolheram se esconder dos olhos do mundo
Pra se mostrarem ao olhar da moldura azul que contorna o real.
E foi ali, na mistura perfeita entre o líquido dos lábios calados
Que o deus quis derreter úmido na ousadia dos apaixonados
Transformados em corais, seixos, algas
Ou sei lá o quê com sabor de sal e si.
Mas únicos, como cada pedra recolhida em memória ao amor molhado que os envolvera.
Se o mar está no meio de seu nome,
É para que a saudade nunca se esqueça de te trazer a cada instante,
Como ondas que beijam incessantemente a areia bêbada.
Amanhecida de garrafas e declarações de amor eterno.
O reveillón de teus ruídos pipocaram um ano novo no meu peito.
Que decidiu explodir no ritmo dos apitos dos navios distantes
Ansiosos pela travessia no canal onde as águas se acalmam.
Nas pedras espremidas entre o amor e o amar
Descobri o mar de seus olhos fazendo onda em meu corpo.

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