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sábado, 14 de janeiro de 2017

Pra estancar a hemorragia

Escrevo com seringas cegas.
Quando coleto o sangue que ainda r-e(x)siste,
Minhas veias se escondem, fugitivas.
Sou especialista em enganar agulhas.
Pois em mim, perfurar-se rima com perfurmar-se.
Aguardo a performance de meus acasos.
Hoje escrevo como quem quer estancar a hemorragia.
Pois o silêncio de meus versos é doença, é infecção.
Faz tempo que as palavras coagularam aqui dentro.
E transformaram todo vermelho em só sangue mesmo.
A matéria da poesia é a saudade.
E nem ela anda ferida por essas bandas.
Futuco para tirar a casquinha de ideias cicatrizadas.
Pois foi tão de repente que todo mundo se transformou em ideia.
Cuidado!
Há tanta ideia solta pelas ruas, sem coleiras,
Que ando pondo minha poesia pra dormir cedo.
Ela precisa mesmo é de pança,
Ao invés de orações coordenadas assintéticas,
Que de tão simétricas, se tocam nos extremos.
Escrevo como massagem torácica naquilo que ainda chamo alma.
Pois é só na poesia que posso manter minhas contradições em paz.
Só encontram minhas veias após sete ou oito picadas.
Minha dor é minha melhor exegese.

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