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sábado, 13 de novembro de 2010

Um casal de pés

À noite, e somente à noite, eles se encontravam.
Passavam o dia, cada qual pro seu lado.
Sustentavam, impávidos,
duas vidas tristes e sem graça.
Já tinha pisado em terras distantes.
Já tinha se ferido em pedras.
Já tinham se desviado.
Mas um dia eles se tocaram.
No princípio, se confundiram.
Não sabiam pra que lado caminhar.
Mas depois, como que numa valsa,
Foram se aproximando,
Se roçando.
E descobriram a alegria um do outro.
Entre calos e unhas,
Confessaram sua agonia de viver só.
E calçaram juntos a mesma vida.
Desde então, já não eram mais um par.
Eram uma comunidade.
De dedos, pêlos e calcanhares.
E faziam seus donos bailarem.
Quadrúpedes bailarinos da vida.
Sim, o amor é a valsa da humanidade.
Nele, somos todos aprendizes.
E roçamos a eternidade com dedos mindinhos.
Os pés também se beijam.
E convidam os corações pra dançar.
No fim do mundo,
Quando as mãos tiverem destruído o universo frio.
Restarão somente os pés.
Incólumes.
Assoviando a esperança em pegadas cálidas.
Passos úmidos do divino em nós.

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