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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O choro do bebê

418 km.
De São Paulo à Marília,
Num único acorde.
Na poltrona da frente,
Sinfônico, o bebê chorava.
O universo em forma de berro.
- É fome, dá mamá pra ele!
Diziam os mais "compassivos",
Preocupados muito mais com a fome do próprio sono,
Do que com o estômago da criança.
Sim, a Misericórdia também é uma personagem nossa.
A tia-mãe balançava, sorria, assoviava, cantava bolero...
E nada.
A boca aberta pro mundo engolia a estrada.
O ônibus todo era uma platéia.
De quando em quando, ele dava um suspiro.
A multidão então dava um outro: Ufa!
Doce ilusão!
Em menos de um minuto,
O choro voltava de sua pausa musical.
Quem disse que uma canção não se faz de momentos de silêncio?
Eu, na minha poltrona encolhido,
Já havia tentado tudo:
Fone de ouvido, leitura de Kafka, xadrez contra o notebook,
Meditação...
Tudo inútil.
Enfim, quando a estrada já estava no seu crepúsculo, como o Sol,
Desisti.
Comecei a olhar pro pobre coitado cantante.
E fiz filosofia:
Taí, somos exatamente isso:
"Um ser chorante"
Choro ergo sum!
Passamos a vida como num ônibus, chorando.
E incomodamos um bocado.
O pior choro não é o da criança,
Que quando a estrada finda, acaba.
A pior lágrima é aquela que nunca cai.
O grito que nunca sai da garganta.
É o choro vergonhoso do homem,
Que por medo da mamadeira,
Preferiu chorar pensando.
E Guerrear sorrindo.
Derramamento imbecil de um ser de fraldas.

2 comentários:

SEMINARISTA ATHILA disse...

Muito bom!

mariab disse...

“Hoje, deu vontade de chorar e eu só queria um colo para encostar minha cabeça e fingir que o mundo lá fora não existe.”
(Clarice Lispector)
Parabéns pelo post, sensacional!abração!