Ontem fui ao mercado.
Fiquei irritado, emputecido.
Em pleno mês de setembro,
Prateleiras abarrotadas de Panetones.
Confesso que tive vontade de chutar.
Dar um bico na inversão absurda dos tempos.
A ansiedade mercadológica empilhada em caixas coloridas.
Infeliz é o homem que não sabe viver no tempo.
Antecipar e postegar é o princípio da solidão.
O capital tem seu próprio calendário.
A moeda tem nome próprio.
Liturgia mercantil da vida.
Celebra-se o bom velhinho no fim do ano (ou em setembro),
Porque no seu saco vermelho está o esperado décimo-terceiro,
As meias nas janelas são enchidas de prestações infindáveis.
O panetone é o reflexo do tempo em que vivemos.
Espiritualidade Ansiolítica.
Quero um tempo de cada vez.
A cada dia basta o seu cuidado.
Calendário bom é o do Sagrado Coração de Jesus,
Que minha vó pendurava na cozinha...
Uma folhinha de cada vez...
Esperávamos com alegria a folhinha com número em vermelho.
Era Feriado e dia Santo.
Dia de macarrão na mesa,
E roupa de missa.
Meu vô com costela de carneiro na boca lambuzada.
Sidra Cereser no isopor com gelo...
Uma procissão de tios vindos de todos os cantos...
E primos, primos, primos.
Tempo de Festa é o dia de hoje,
Santificado pelo cotidiano cru.
Das panelas queimadas,
E dos cartões de ponto estralando nas máquinas de Amém do trabalho.
Inverter o tempo pra servir o Capital é a morte do Ser.
Ao invés de panetones em setembro,
Prefiro o pãozinho francês da esquina...
Afinal, o Deus dos setembros e dezembros,
Se fez pão.
E não panetones.
Um comentário:
Adoro panetones.Eles não tem mais o gostinho de Natal, mas quem liga pra eles quando temos o Pão da Vida.
"Eis que sou o pão da vida/ Eis que sou o pão do céu/ ... Faço-me vossa comida/ Eu sou mais que leite e mel".
Bjs, fique com Deus!Sua Benção!
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