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sábado, 7 de abril de 2012

Uma pedra, um túmulo e um Corpo

Ela beijava a boca do túmulo.
Tinha a doce ilusão de que seria eterna.
Enorme, ela tinha nascido pra ser movida.
Tampava um universo com sua grandeza impávida.
A pedra era toda a imobilidade do mundo em forma redonda.
E, mesmo sendo redonda, preferia não rolar.
A pedra só olhava pra fora.
Não descobrira ainda um interior infinito que ela protegia.
De lá pra cá uma espera.
De cá pra lá uma proteção.
Sim, a enorme pedra guardava um tesouro.
Mas não tinha coragem de olhá-lo.
Entre os dois havia um véu.
Há pedras que em si já são túmulos.
Não existe sepulcro maior do que a imobilidade.
Satisfação infeliz de simplesmente estar.
Não, a pedra não precisava de guardas.
Eles eram inúteis diante da sua paquidermica indolência.
O peso de toda uma humanidade redonda-imóvel estava ali, mudo.
De repente, o túmulo se fez grito.
E um corpo sozinho moveu o passado-rocha do universo.
Todas as proteções caíram ao chão.
E a ressurreição também foi desintegração da matéria inerte.
O mundo é dividido entre os que se assentam em pedras
E os que as rolam ladeira abaixo.
Eu creio na Igreja que não coloca pedras.
Mas as empurra com os braços do Senhor.
Que não impede a humanidade de olhar o Corpo do Deus.
Mas que é puro Corpo, apaixonado, pulsante e absurdamente vivo!
A Páscoa é um empurrão!
O corpo pendente da sexta
É o corpo empurrante do domingo.
Uma Feliz Páscoa a todos que viram seus sonhos
Empedernidos, emudecidos, protegidos por guardas
Mas que ao simples toque de um corpo-vivo
Desintegram pela esperança o que o medo transforma em rocha!
E que sejamos muito mais do que pedras tristes de um túmulo vazio!

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