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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Herodes

Ele recebeu a cabeça de João em um prato.
Cortou o profeta. Separou o ser e a fala.
Dividiu o justo para não assumir a própria divisão.
De tanto ouvir falar os alheios,
De tanto levar em conta as opiniões dos outros,
Prometeu metade de um reino aos que o seduzissem.
Metade mesmo, porque inteiro ele nunca foi.
E, com uma dança, o efêmero o rompeu em incertezas.
Somos todos Herodianos quando nossa vida gira ao redor do externo.
Ou seja, quando "o que falam de nós" tem mais valor do que o que somos.
Não fazer da janela uma porta.
Personalidade exige pessoalidade.
Ser um consigo é o primeiro passo para se tornar rei.
Quando o "ouvir falar" se torna discurso,
Quando a "opinião alheia" se ensina como doutrina,
Quando se decide a partir do "efêmero dançante",
Então já não se governa,
E o rei se torna o pior dos escravos.
A divisão do corpo do Batista,
É a divisão da alma de Herodes.
Não confies tua vida aos que governam divididos em si.
Não coroes a quem se direciona pelo ouvir falar da multidão.
Não participes dos banquetes onde o efêmero embebeda o juízo.
João Batista aponta a Palavra que vem.
Herodes, as palavras que se foram.
E nem eco formaram.
Entre o "falado na boca de muitos"
E o "Verbo" feito gente,
Há um espaço infinito,
Que jamais será superado pelas certezas vacilantes.
Para quem faz do divino algo de que se ouviu falar,
O encontro será sempre um lugar de medo.
E o deus, uma afronta.
Os sábios usam a cabeça.
Os profetas a levantam.
Os imbecis preferem cortá-la.

Um comentário:

Suely Melo disse...

Como sempre perfeito e tocante nas palavras!
Bjossss.