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quarta-feira, 22 de maio de 2013

O Não-Dito

A Verdade habita o território das palavras mudas.
Daquelas que insistem em não percorrer a língua.
E se escondem nas amígdalas,
Que é justamente por isso que inflamam.
Falar é sempre uma redução.
O Não-Dito guarda em si tesouros inenarráveis.
E, por ser um tesouro, mesmo não sendo exposto,
Dita os rumos das mendicantes palavras fugitivas.
O silêncio é o maior grito possível.
No amor, é o Não-Dito que dita as regras.
Ele atravessa olhares e zomba do dizível-risível.
Na política, o Dito é disfarce.
O Não-Dito é regra. É cânone.
Se a palavra é a arma,
O Não-Dito é a trincheira.
Dias atrás vi o Não-Dito por aí.
Ele era enorme e tinha trinta e quatro olhos.
Paquidérmico, ele demora a se mover de um lado a outro.
O Não-Dito é irritantemente lento.
O que se diz voa rápido, é água,
O que se esconde é solo.
Permeável terreno fértil pra todo tipo de planta.
Os julgamentos se esquivam dos argumentos,
E fazem dos dizeres um cenário para as marionetes da razão.
O Não-Dito é trêmulo. Perpassa as sombras.
O Não-Dito não é bom nem ruim.
Porque "bom" e "ruim" são atribuições daquilo que se fala.
Morrer é, antes de tudo, Não-Dizer.
E, por isso, a única verdade inevitável.
Existir é disfarçar-se de verbo e conjunções uma porção de substantivos silentes.
Deus mesmo, para criar, precisou ser Verbo.
Bem-Dito o Não-Dito que calou o Mal-Dito.
E Calou calado os dizeres absurdos.




Um comentário:

mariab disse...

"Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem. Natural é encontrar. Natural é perder. Linhas paralelas se encontram no infinito . O infinito não acaba. O infinito é nunca. Ou sempre..."
(Caio Fernando Abreu)
saudades Bjs!