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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Cachoeira e Eternidade

Para mim, nada é mais pedagógico para se explicar a eternidade
Do que uma cachoeira em sua voluptuosidade.
O fluxo contínuo de águas sempre novas e mesmas,
A queda absurda em direção a um oceano longínquo,
O esforço voraz de transpor obstáculos,
A insistência em solapar pedras milenares, e moldá-las ao seu sabor.
Meu pai me disse uma vez:
O rio só chega ao mar porque sabe vencer os obstáculos.
Na cachoeira, o mar todo já está presente em forma de desejo.
Ela não percebe, mas é o oceano que a atrai
Aliás, o oceano é todo cachoeira derramada,
Silencioso, ele retribui em forma de ondas
Um leve reflexo do que lhe foi encontro um dia.
A onda é a cachoeira do mar.
Eternidade é tudo aquilo que antecipa em nós o encontro com aquele que nos atrai.
A eternidade não está no fim.
Está no impacto incessante do fluxo do dia-a-dia.
Quem espera uma eternidade apenas no além,
Corre o risco de se afogar no aquém,
E não mergulhar no Todo que se derrama mesmo nas quedas.
O amor, ou é cachoeira, ou não-nada.
Ele é feito de abismos.
Aos quais só se responde com mergulhos.
Quando o que brotar em teu interior parecer não dar pé,
E te atrair a mil metros de profundidade,
Não temas estender a mão para a travessia.
Garanto: ela não será segura!
As quedas te deixarão marcas.
E o risco de perder a vida será constante.
Mas em cada passo, seja em falso, seja deslizante,
A cachoeira do Eterno se mostrará sempre vitoriosa.
E o amor, um risco feito queda-livre.
A eternidade é um salto.

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