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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Descuro-me

Eu me descuro
Porque me declaro um gerúndio.
E confesso que não estaciono bem.
Há em mim uma mistura ex-tácita extática de desejos e frustrações.
Vivo a expelir o sangue venoso do ar insuflado em mim.
No fundo, sou uma espécie de rodovia, sem acostamento.
Demarcada em uma multidão de hífens.

Ando sem tempo e sem pontos.
Mas cheio de aspas.
Vidas e faixas duplas não permitem ultrapassagens.
São retas paralelas, vidas paralelas,
Que gostaria muito de saber se no infinito se encontram.

Meus presentes são orquídeas, moringas e pitangas,
Que embelezam, saciam a sede e alimentam.
Eu bebo meus sonhos pela manhã
E os transpiro em oração durante o dia.

Meus heterônimos eu mesmo batizo.

Eu me recuso sendo outros.

Ser tão vários sem deixar de ser único...
Estar em todos sem deixar de estar em cada...
Dividir-se multiplicando...
E, sobretudo, fazer de cada passagem uma permanência.
Eu sou eu e minhas contradições.


2 comentários:

Suely Melo disse...

Lindíssimo texto, Thiago. Lindo e profundo! ADOREI! bjs

mariab disse...

“Um dos meus anseios
de chegar ao infinito
é a esperança de que,
ao menos lá,
as paralelas se encontrem.”
(Dom Helder Câmara)