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quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Como Manga Coração-de-Boi

O coração, se pudesse falar, calaria.
Ele bate no descompasso do desprotegimento.
A-corde é som e verbo ao mesmo tempo.
Mas antes de tudo é pulso.
Porque paixão é assim:
Tudo dormia a setenta pulsos por minutos.
Às vez sessenta, cinquenta...
E num salto diastólico...
Acelera a frequência taquicardíaca do ser-tão-tonto.
E o faz ofegar nos afagos mais simples.
Ontem medi minha pressão.
Ela estava normal e isso me preocupa.
O mais bonito da panela fervente,
É que ela apita e solta fumaça quando esquenta.
Se existe alma, ela só sabe mesmo é ser cozida.
E minha poesia me cozinha antes de ser escrita.
Meu coração vive à mostra,
Pegando friagem e tossindo feito motor de fusca.
Escrevo pra não coagular o que percorre a vida.
E o único infarto que temo
É o tédio.
O deus, que não é bobo nem nada,
Quis deixar o coração pra fora...
Grande. Vermelho. Maduro,
Como manga coração-de-boi.
Que a gente come pra deixar a boca melada e amarela.
Afinal, Paixão é privilégio de lambuzados.



Um comentário:

Suely Melo disse...

Impossível não se encantar com sua poesia! Toca lá no fundo da gente!