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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Escorrer-se

Porque o beijo tem sempre um quê de emergência.
A vida, besta e serpente,
Nos morde mesmo é pelas pernas,
Trazendo o passado como rastro e meta.
Poesia a gente faz como se faz tapioca.
Primeiro a gente umedece a matéria viva,
Como polvilho que precisa do líquido
Pra existir e afundar ao mesmo tempo.
Depois você adiciona o tempo,
Que, quietinho, faz toda mistura virar alimento.
E por fim você descobre que a matéria engoliu o futuro,
Como necessidade quântica de explodir em hojes perpétuos.
O poeta vive recheando as coisas sem gosto,
Pra ver se o sabor das coisas permanecem
Ainda que no triste vagar das palavras.
Faço poesia para perpetuar o gosto das coisas.
Os lábios que se tocam são pincéis delicados
De letras que não cabem em tipografias.
O deus, que fez o humano foi beijando mesmo
Quis morder a criação até o sangue lhe escorrer pelos beiços.
Mineiro, ele sabia que o vermelho de dentro era mais saboroso que o cinzento de fora.
E chamou tudo aquilo que escorre de Eternidade.
O futuro se engravidou do sorriso de seus dentes abertos,
Que como um canal cavado pelo homem,
Permite aos navios do poeta ultrapassarem como pequenas jangadas,
Lentas,
Mas absurdamente perdidas pelos destinos que não sabem quais são.
Amar é deixar-se escorrer.

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