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quinta-feira, 6 de julho de 2017

Ode às aves de rapina que me devoram as vísceras

Que sobra do poeta sem suas vísceras?
Sua vida é um Promete(u)r-se constante...
Devorado pelas aves de rapina que ele mesmo cria em sua edícula.
O poeta examina o fígado pra ver se resta embriaguez,
Porque vomita o mundo quando este,
Ao invés de Prometeu lhe Promete.
O poeta é todo partida de tão partido.
Ele precisa ser devorado toda manhã,
Mas só chora mesmo é na solidão da noite.
Que lhe macera e encanta ao mesmo tempo.
O Poeta persegue a Menina que lhe foge.
E descobre a cada dia que só faz som porque é oco.
A expressão "oco por dentro" é uma redundância.
Pois só ao poeta cabe "ser oco por fora".
Ele escuta o eco-oco-louco das sensações do mundo,
Com o ouvido encostado em suas paredes.
E as palavras penetrando mudas pela fechadura das portas.
Sou doutor em obscenidades absurdas.
A tristeza do poeta é que ele só habita as paredes do mundo.
E nunca o adentra, a não ser pra espiar.
O amor não acaba nunca no coração do poeta.
Ele vira reticências.
E sua maior dor é saber que lá no fim da frase,
Seus beijos nunca serão mais que vírgulas.
Tudo é crueldade no território calado das poesias de fim.


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