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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Alvorada: um samba de Cartola

Ouço Cartola.
"Alvorada, lá no morro que beleza!
Ninguém chora não há tristeza,
Ninguém sente dissabor".
O meu Deus é o Deus do morro.
Minha religião não cabe no templo.
Eu creio no divino que escapa.
No eterno que se esconde de nossas vãs teorias.
Eu abomino as doutrinas.
Que clamam obediência unicamente a si mesmas,
Ao invés de apontarem para o Ser.
O meu Deus dança carnaval.
Ouve Chico Buarque.
Toma banho de chuva.
Anda de carrinho de rolimã.
Joga truco.
E não nega uma dose de Salinas.
A igreja desse Deus possui apenas um único dogma.
" - Serás feliz sob qualquer condição!
E farás felizes os que estiverem ao teu redor!"
Triste época em que a religião se torna sinônimo de desligamento.
Re-ligatio. Des-ligatio.
O divino anda escondido pelos botecos.
Perambula entre feiras, ônibus e estádios de futebol.
Se quiseres encontrá-lo, não o procure entre os sábios.
Não, eles já o engoliram e não regorgitarão.
Antes, revire o teu lixo.
Desdobre tuas curvas,
Teus mistérios e vergonhas.
Deus não cabe numa lata.
Ele bate lata.
Ele desenlata.
Nós, que mais latimos que mordemos,
Seríamos infinitamente mais divinos,
Se subíssemos os nossos morros interiores...
Pra fazer batucada contemplando alvoradas.
"Você também me lembra alvorada,
Quando chega iluminando meus caminhos tão sem vida.
E o que me resta é bem pouco, quase nada,
De que ir assim vagando,
Numa estrada perdida".



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