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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Locomotivas e Vagões

Há pessoas-locomotivas e pessoas-vagão.
Umas puxam, outras são puxadas.
Umas apitam e soltam fumaça,
Outras apenas deslizam sobre trilhos.
Umas queimam.
Outras comportam.
Entretanto, todas precisam de trilhos para ir.
Os vagões vivem atracados, engatados uns aos outros.
Mas é a locomotiva que vai adiante.
Impávida, senhora de si, negra e cheia de barulho.
A locomotiva fala.
O vagão se arrasta num silêncio sepulcral.
O vagão não sabe viver sem trilhos.
A locomotiva constrói estradas,
E risca o céu com sua fumaça.
Os vagões, em seus descaminhos, procuram culpados.
Geralmente apontam as locomotivas: elas me fizeram perder o caminho!
Os vagões são tristes porque são ocos por dentro.
Já a locomotiva é sólida.
Ás vezes a locomotiva se cansa de puxar.
Para. Fumega um poquinho. Mas recomeça.
O maquinista não controla a locomotiva.
Ela a monta, como a um boi brabo.
Os vagões, tadinhos, são sempre abarrotados.
Cabe um mundo num vagão.
Ele não é singular.
As estações são o refúgio dos vagões.
Lá eles se deliciam com o entra e sai dos passageiros.
Vomitam e devoram o tudo, sem ficar com nada.
Para a locomotiva, a estação é a ilusão da parada.
Os trilhos continuam gritando por idas.
Para a locomotiva não há fim. O ponto final é agora.
Há apenas trilhos.
A locomotiva é verbo.
O vagão é conceito.
Minha vida não pode terminar num conceito.

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