Há perguntas que para mim cabem várias respostas.
Aliás, nunca fui alguém de uma verdade só.
Eu tenho minhas opiniões,
Mas, se você preferir, posso ter outras.
Todavia, quanto a uma questão específica,
Não tenho mais do que uma resposta.
Minha única certeza absoluta.
"Qual sua fruta predileta?"
Pitangas!!!!!!!
Não tenho hesitação alguma.
Meu paraíso será uma apoteose vermelho-azedo.
Não existe nada que se iguale ao sabor de uma pitanga.
Ela não é nem ácida, nem doce, nem amarga.
Nem tenra, nem áspera, nem nada.
Ela é o infinito de possibilidades pendurado.
Sua forma é uma estrela com muitas pontas.
Pontas que apontam pra tudo.
Não adianta comparar:
A pitanga não se parece com acerola, nem com cereja.
Muito menos com laranja
(embora o casamento dessa última no altar do suco seja irresistível).
A pitanga é a singularidade do Ser chupado.
Quando eu era criança,
E ia à catequese,
Adorava o pé de pitanga ao lado da capelinha.
Era um modo do Deus me atrair pra Ele.
Outubro, que já foi o mês de Nossa Senhora,
dos Anjos da Guarda e hoje é das crianças,
Era mais feliz porque era o mês das pitangas.
Eu esperava quietinho o calendário virar...
E quando chegavam as primeiras chuvas, "buummm"!
Aquela arvorezinha sem graça se explodia numa catapora de bênçãos.
Fui à feira ontem e não achei a bendita.
Que ignorante eu sou...
Ainda não aprendi que pitanga boa é pitanga roubada.
É a fruta mais brasileira que conheço.
Consegue ser tudo e trazer todos os sabores do planeta,
Numa miudez que dá dó.
A pitanga é a síntese do Darcy Ribeiro.
A "pós-modernidade" se é que existe,
Existe como uma pitanga.
Pendurada, tênue, azeda e doce ao mesmo tempo.
Esperando para ser apanhada.
Chupada e cuspida.
Há em meu peito um pomar de pitangas.
Um desejo maluco de ser algo doce.
Mas com um azedume incrível.
A alguns espanta.
A outros, fascina.
Rezar pra mim é subir em meu pé carregado.
E saborear-me,
Quietinho, escondidinho.
Enquanto a aula de catequese não começa.
Um comentário:
Hum...que delícia!!!
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