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domingo, 4 de dezembro de 2011

O público e o privado - Parte I

Vivemos a explosão de privado.
Tudo bem, ele também foi inventado.
O espaço privado é uma criação da falida modernidade.
Até o séc. XVIII, o mundo era público:
Dormitórios, mictórios, mesas de jantar,
Igrejas, tronos e privadas.
O rei, o papa e as bundas eram seres partilhados.
Lembro-me de uma visita a uma construção medieval.
Nas casas de pedras, defecava-se coletivamente.
Um ao lado do outro. Impávidos.
O rei era o corpo do Estado.
O papa era o Uno desdobrado em mitras e báculos.
Mas veio o ser pensantes.
Cogitare =Essere.
O pensamento exigiu um quarto só pra si.
Um dormitório solitário do Ser.
Criou-se a ciência, a razão e o monólogo fundante.
As privadas se tornaram privadas
Agora, cada um poderia cagar sozinho,
E ler jornais, gibis ou revistas velhas,
Sem precisar olhar proa lados.
O privado se fez carne e habitou entre nós.
E o público virou teoria de professor idealista.
E paredes, cortinas e divisórias
Cercaram o Ser em suas mazelas.
O quarto da criança, o closet, a sacristia.
Fronteiras tristes do latifúndio humano.
(continua...)

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