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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O público e o privado. Parte II

A modernidade inventou o público.
Mas, no seu descuido, abortou o privado.
As paredes e as cortinas são uma criação do cógito.
Separo ergo sum.
O espaço do escondimento.
O lugar do segredo misterioso de si.
O meu eu se tornou uma propriedade.
O meu silêncio tem preço.
Pague-me e eu lhe mostro.
Desde então, existir-se se transformou em assunto de feira livre.
Livre comércio do Ser.
As privadas foram enclausuradas sob tímidas portinhas.
E trincos e perfumes e descargas,
Fecharam, maquiaram e expulsaram nossos dejetos,
Pra bem longe dos olhares alheios.
O defecar se tornou uma constituição do indivíduo.
Indivisível.
Sentado em seu trono, cada ser cagante se tornou rei.
Ele tinha um espaço sagrado, dele, unicamente dele.
E mais...
As igrejas construiram capelas em separado para o Deus-Hóstia.
Os padres cobriram-se de preto e pano para esconder-se.
E as enormes catedrais cederam espaço a lugares claros,
Onde a escuridão se escondeu no mistério tenebroso de si.
Rezar em público: ofensa ao Estado Laico!
Beijar em público: ofensa à moral.
Fazer cocô em latrinas públicas: cúmulo da imundície.
O privado da consciência é uma questão de higiene.
No íntimo de mim, eu sou limpo.
O meu universo interior me bastava.
Eu continha em minha sacristia o universo.
Lançando meus resíduos, eu era único e Universal.
O segredo se tornou vergonha.
E Deus se tornara um passarinho em uma gaiola...
Cantaria quando eu quisesse.
(continua...)

Um comentário:

mariab disse...

Tu vens ! Eu já escuto teus sinais!
Vamos deixar a luz brilhar e afugentar as trevas e provocar em nós a certeza de vale a pena crer, perdoar e amar!.
Feliz Natal para você e sua familia, gostaria de te dar um lindo presente ,mas fica ai somente o meu amor, com todo o respeito, Obrigada pelos seus maravilhosos posts.
Com amizade e preces! Paz e Bem!
beijos!!