Visitas

quinta-feira, 15 de março de 2012

Comunicação

A comunicação é a estrada da liberdade.
Há no interior de cada ser-falando uma palavra sempre a ser dita.
Há uma reserva escondida,
Temperada, madeirada como vinho fino.
Não se pode abrir a rolha antes do tempo.
O sabor mais profundo de si não deve ser servido em qualquer mesa.
Não, comunicar-se não é falar-se.
É ser ouvido e fazer-se dito.
Comunica-se perfeitamente aquele que não precisa de palavras.
Expressa-se melhor quem percorre o rio lento do silêncio,
Sem ceder às margens devoradoras emudecidas.
Não deságue em qualquer represa!
Não afogue o universo em frases líquidas.
A melhor palavra é a que não foi escrita.
Roçou o céu da boca e fez cócegas.
Mas não saiu.
E se debruçou dormente sob a língua.
Às vezes, o discurso é o esconderijo do não-ser.
O Deus-para-além-das-gramáticas foi Comunicante antes de ser Comunicado.
Ele, que era Verbo, infelizmente foi reduzido a Pronunciamento.
Perdeu a ação na boca-falante dos emudecidos pelo tempo.
O Verbo é puro movimento.
É a Palavra-sendo. Percorrendo a mudez universal.
Quando criança eu detestava ditado.
Não suportava que cada palavra fosse ditada separadamente.
A - bola - é - azul
O - menino - chutou - a - bola
Ele - fez - gol - com - a - bola - azul
Eu não concordo que as palavras vivam separadas.
Sozinhas, elas são tristes.
Como Menino sem bola azul,
Como bola azul sem gol.
Resguardar-se não significa calar-se!
Significa, antes, comunicar-se.
E penetrar o planeta-azul-bola por detrás de verbetes mórbidos.
Nunca a comunicação é tão profunda como quando não se diz nada.
A Palavra salvou o mundo.
Mas foi o silêncio quem salvou a Palavra do mundo.

Nenhum comentário: