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sexta-feira, 9 de março de 2012

Vinho da Vinha na Veia

O sentido não é substantivo.
O sentido é verbo.
A vinha é verbo.
Ela é o vinho se tornando.
Só pode haver sentido (substantivo)
Quando ele antes tiver sido verbo.
Assim, na dinâmica da vinha-vida,
Tudo é verbo.
Adubo é verbo.
Semente é verbo.
Rama é verbo.
Podas. Flores. Frutos. Caldos.
Puor si muove.
Cerca não. Cerca é triste.
A uva é o ícone da espera.
Quietinha, dependurada em cachos,
Ela engorda, lenta, soberana.
Há em toda uva uma expectativa escatológica.
A uva é um ser eclesial.
Ela só se preenche de suco em comunidade.
Uva sozinha é biroca.
Uva juntinha é Igreja.
Quando chega a colheita
E os cachos se entregam trágicos às mãos do ceifeiro,
As uvas viram procissão.
Sim, o sentido da uva é o vinho.
Ela já nasce embriagada.
Ser pisado é a atitude daqueles que não cabem na vinha.
Eles saltam. E porque saltam, transcendem.
Se um dia me esmagarem para extrair o meu caldo,
Que seja com dança!
Que seja com ritmo!
Desejo ser pisado ouvindo Carmen, de Bizet.
Prometo dar o suco todo.
Feliz é aquele que seguindo o exemplo do Deus
Não reclama dos pés que o esmagam,
Mas sabe se escorrer em um líquido cristalino, doce.
Acabar é ser cachoeira.
O Deus-das-uvas-pisadas já nasceu bebida.
De tanto sentir o vinho correndo entre as veias,
Embriagou o universo de sentido.
Há um banquete no interior de cada uva.
Há cálices sedentos à espera de brindes.
Ansiosos como leitos nupciais.
A vida é o que se espreme entre a vinha e o cálice.
Tomai todos e bebei!

Um comentário:

mariab disse...

A dor é uma triste inimiga, o corpo é seu lar, mas a alma também castiga...
...Quando não houver caminho
Mesmo sem amor, sem direção
A sós ninguém está sozinho
É caminhando
Que se faz o caminho...

Enquanto houver sol
Enquanto houver sol
Ainda haverá (Titãs)
Paz e Bem!