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domingo, 18 de março de 2012

E preservar e abrir espaço

Ontem assisti pela segunda vez a montagem de 7 gatinhos, de Nelson Rodrigues.
Esse texto me fascina.
Nelson é genial.
Ele é obsceno, ele nos maltrata.
Lança aos nossos olhos o que jogamos sob o tapete.
O teatro, que das mentiras humanas é a mais verdadeira,
Não existiria no Brasil sem Nelson Rodrigues.
Saí com uma sensação absurda de ofensa.
Senti-me esbofeteado pela verdade não-dita do Ser.
E gostei.
A arte é uma forma de ofensa.
Há uma gata parindo sempre pedindo pra ser assassinada em cada história humana.
O nojo e o ódio consomem o silêncio e se revelam amiúdes em cada fragmento.
7 gatinhos é um exercício de se suportar.
Minha penitência na quaresma é não virar o rosto aos bofetões que a vida dá.
É um jejum tremendo não devorar o tempo e antecipar fatos.
Não há maior caridade do que assentir-se em cada minúscula parte regorgitante de si.
E preservar e abrir espaço e preservar e abrir espaço...

3 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Algumas vezes me "puni" com essas lições indesejadas, também!

Noutras, percebi que a punição não fora tão severa pois mesmo atingido, eu o fora "de raspão".

Ouso jurar, outrossim, que ela era sob medida para um grupo. Tal juramento é possível porque me considero um bom observador das pessoas.

E se é fato que não posso provar o que afirmei agora, peço apenas que acredite em mim - ainda que momentaneamente e como um voto de confiança.

É bem verdade que dentre os atores das artes há quem possua um certo "espelho mágico"; Um espelho onde nos é exposto tudo aquilo que nos esforçamos para ocultar.

Me vem à mente uma alegoria: A incômoda sensação seria como aquela da hora do parto que, querendo ou não, nos expulsa de um lugar tranquilo; É imperativo nascer para um Mundo novo e não há como não fazê-lo!

Mas nascer acontece em momentos distintos para pessoas distintas; O tal espelho se apresenta para cada pessoa nesses instantes ímpares, também!

Joãozinho Trinta criou polêmica e, mesmo havendo controvérsias a respeito da validade de seu ato, lembro-me que ter exposto a pobreza na passarela do samba e desfilar um Cristo coberto de sacos de lixo pretos. Concedo que teve lá sua serventia.

Mas que grupo seria alvo para aquele puxão de orelha do artista? Por certo, não eram os personagens reais da pobreza, haja vista estarem "acostumados" com aquilo tudo.

Aliás, nos acostumamos a tudo (ou quase tudo), graças a adaptabilidade humana...

Hoje, há até um certo prazer e curiosidade pelo que choca, de modo que a intenção de chocar se perde, se desconfigura.

Nos informamos de que botaram fogo em mais pessoas. À nossa mente, num átimo temporal, Galdino se faz presente: A foto tirada do leito do hospital de onde ele não saiu mais com vida, dói como a desgraça e a descrença completas no ser humano!

No entanto, quando os casos horrendos se repetiram, vimos a mídia (e o interesse das pessoas!) repousarem sobre a reconstituição do crime, os detalhes do local, a opinião de quem viu e quem não viu, como o caso prossegue, etc.

Mas esquecemos de perguntar... das vítimas. Ops!

As bofetadas de Nélson Rodrigues doem em corpos vivos; Em cadáveres, não.

mariab disse...

“Nada pode substituir o calor de um cumprimento face a face. Mesmo assim, pensamentos podem cruzar a distância e levar sorrisos e abraços, de recordação…” Pra mim ,você tem cheiro da cor lilás e de banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Bom final de semana .Saudades, Paz e bem!