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terça-feira, 24 de abril de 2012
Quadro pendurado
Há dias em que eu acordo com uma vontade infinita de não salvar o mundo.
Corrermos na direção do precipício com os olhos vendados (Pascal)
Pretensão absurda.
Não, eu não sou niilista.
Apenas me recuso a inserir a minha mísera vida numa lógica de sentido.
O trágico não precisa de sentido.
Precisa de instante.
Não ter metas não significa não saber pra onde se vai.
O tempo que exige evolução não nos entrega os "porquês".
Os objetivos necessitam de sujeitos calados.
"Alcancem-me ou os devorarei!"
Planto rosas apenas para que o perfume seja uma saudade.
No fenecer de cada uma delas, eu já me realizo.
Morrendo, o Todo mergulhou no Ridículo.
E o Deus tornou eterno o acabar humano.
A vida é um museu de arte.
Ou optamos por passar correndo na direção da porta do fim,
E apenas tocamos o universo com o rabo d'olho.
Nessa opção, o fim, ainda que atraente,
Serve unicamente para uma profissão triste de fé: vi tudo, alcancei meu céu!
Há outra opção.
Que não dá a mínima pra porta de saída.
E que ao invés de olhar rápido para os quadros da parede,
Se transforma em um deles
E decide habitar penduradamente o caos.
A salvação não depende de mim.
Ela veio por um homem pendurado.
Pendurando-nos, atraímos o infinito ao Ser.
Convergência do absurdo a um grito de desespero.
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