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terça-feira, 15 de maio de 2012

Frutificar

E Deus disse: Ide e frutificai, multiplicai!
O ser humano foi criado depois das plantas
Para aprender com elas a transformar-se em algo saboroso.
Ainda que com caroços.
Quis o Deus-Agricultor que a dinâmica fazedora das coisas se desse em forma vegetal.
A criação é um caminhar rumo ao bagaço.
Onde os frutos identificam o finito.
Na dinâmica do amor, há algo de fruta.
Plantar, regar, ver crescer, colher.
Morder.
Quando eu era criança havia uma brincadeira ingênua:
Pera, uva, maçã, salada-mista.
Aperto de mão, abraço, beijo no rosto.
E a salada que trazia tudo mais um selinho doce.
Ali a vida fritificava em cachos suculentos.
As relações são frutas dependuradas em nossa árvore-existência.
Tudo se multiplica no interior da raiz quando as flores se pipocam em rebentos.
Na fruta coabitam alimento e semente.
Ela guarda silenciosa uma nova vida dentro de um fim-bagaço que a espera.
O amor só se mostra no talo.
Nunca ouse falar de amor antes do caroço estar à mostra!
O abacate tem um caroço enorme dentro dele e parece um ovo de páscoa.
A melancia levou um tiroteio de sementes e as guardou quietinha no seu vermelho.
Eu nunca vi semente de coco.
Já a manga se entrega aos fiapos... ela é teimosa.
Ah, cada fruta é um romance.
E cada relação de afeto uma combinação única.
Tal como vegetais que só se tornam alimento quando são arrancados do pé,
A vida só se reproduz na colheita.
Eu prefiro o verbo apanhar do que colher.
Catar também é bonito.
Colher a gente colhe rosas, sangue, fezes.
Já fruta a gente apanha, cata, pega, chupa.
Multiplica-se quem não se nega às mordidas do existir.
É nas mordidas sofridas que os olhos se abrem!

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