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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Os santos do pau-oco

Em Minas, onde morei, havia uma porção de santos do pau-oco.
Eram imagens barrocas, centenárias,
Que tinham cabelo de gente morta,
Olhos estalados,
E roupa de cetim.
Bastava algum atrevido erguer o manto do santo e pronto!
Voilà!
Decepção em forma de oco.
Os santos não tinham nada por dentro.
Eram pura armação.
Talvez por isso fossem admirados.
Eles sustentavam uma armação bonita,
Exterior, até elegante,
Mas não tinham nenhuma intenção em ser sólidos.
Uma imagem não precisa ser sólida.
Precisa "parecer" algo.
Assim, sem esforço.
No oco das imagens, o oco da vida.
Elas eram uma forma de espelho!
Não pense que oco é sinônimo de vazio.
O vazio é a ausência de algo que um dia preenchia.
O oco, pelo contrário, é preenchido pelo externo,
Por aquilo que representa!
Pra mim, aqueles santos de pau-oco eram reais.
Ainda mais quando descobri que no seu oco-ventre
Já foram colocadas as jóias, tesouros dos nobres,
E até mesmo escravos fugitivos.
O oco era uma forma de segurança, um ninho.
Há esconderijos que surgem não por medo,
Mas por investimento!
Sentir-se oco significa também estar à espera de alguém,
Que, seja tesouro ou escravo,
Sempre caberá no espaço que se permite dentro de si.
Os sólidos não conseguem abrigar mais ninguém.
Eles se bastam. E por isso são medonhos!
Às vezes me sinto oco.
E meu peito parece de vez em quando um útero vazio,
As palavras fogem,
O pensamento então?
Esse não dá seta, e vira na minha frente...
Nessas horas lembro-me dos santos-ocos.
Eles sempre podiam abrigar em si um universo,
Desde que soubessem se sustentar sobre frágeis roupagens.
A roupa também faz o santo.
O interior se santifica na espera.
E se constrói nos espaços permitidos pelo eu.
Não, nunca tente preencher os ocos da vida com veleidades.
Permita-se saber-se oco, e ao mesmo tempo,
Infinitamente aberto,
Pronto pra acolher o que o tempo lhe solicitar,
E os vazios serão mais do que um nada,
E se transformarão em preces...
Santificadoras.

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