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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Par de pernas

Minha primeira eleição foi em 1992.
Eu tinha apenas 13.
Era o tempo em que a oitava série e o ginásio se equivaliam.
A urna estava à frente de todos.
A decisão: escolher o par de pernas mais bonito da escola.
Desde aquele tempo minhas escolhas eram atravessadas pela dúvida.
Por que um voto se reduziria a uma perna?
Ou a um par delas?
Uma pessoa, um voto e duas pernas.
"Qui a la choix a la croix"
Foi ali minha primeira aula sobre a relação entre o público e o púbico.
A dificuldade, todavia, estava na direção do meu olhar...
Que insistente, preferia um corpo a um par de pernas,
Por mais bonitas que fossem.
Andar sem ver é a pior cegueira que existe.
E assim, meu primeiro voto foi nulo.
Recusei reduzir uma moça ao seus músculos e articulações.
E descobri, no universo das possibilidades, a infinitude das decisões.
Corrupção é tirar do outro a possibilidade de ser vários.
É segurar numa mão o que insiste em escorrer...
Duas pernas não me representariam jamais!
Em cada eleição, sinto-me remetido àquele ano
Que, por coincidência, também recusou um presidente eleito.
Em cada voto, uma re-volta.

Um comentário:

mariab disse...

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
Fernando Pessoa
Saudades de ti, um forte abraço.